quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Navidad de Luís - Natal de Luís (legendado)



Essa belíssima canção de León Gieco ilustra o natal de muitas crianças que não podem se dar o luxo de acreditar no papai noel.

Essa música é uma bela resposta a hipocrisia do natal em que o significado religioso e o espirito de solidariedade é quase nulo.

A canção tem o mérito de retratar a história de uma criança que trabalha o ano inteiro e uma senhora que o presenteia nas vésperas de natal com panetone e vinho. O garoto com toda a humildade recusa os presentes oferecidos pela senhora, já que a sua situação social não mudará no dia de natal.

O final da música é o há de mais emocionante, porque Luís resgata o verdadeiro espirito de Jesus e o sentido do natal, quando ele afirma que o pai dele dará algo melhor do que os costumeiros presentes de natal, e assim ele continuará vivendo, vivendo, vivendo...

Para quem não suporta as velhas canções natalícias, essa música é ideal para aquelas pessoas que acham que o natal é muito mais do que uma festa do consumismo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

30 anos sem John Lennon


Há trinta anos morria John Lennon, o ícone da música moderna. Ele, McCartney, Starr, Harrison fundaram a maior banda de todos os tempos, e que até hoje influencia as novas gerações.

A morte de Lennon foi trágica não apenas pelo mito que criou em torno dele e o fim de um sonho de construir uma sociedade mais humana, mas também a música parece ter perdido o rumo.

Atualmente é muito comum ver jovens que preferem ouvir músicas antigas, ressaltando a sua qualidade e uma certa nostalgia em um tempo que eles não viveram. No entanto, esse fenomeno não é apenas dessas duas últimas décadas, nos anos 80, por exemplo, muitos jovens ouviam músicas dos anos 50 e 60. A única diferença é que naquela época ainda se escutava música de qualidade.

Nos últimos vinte anos, a qualidade musical caiu bastante e isso se explica por vários motivos, mas destacando esses como os principais fatores.

A) A hegominazação mercadólogica nos meios de comunicação que promovem "artistas" ao gosto e a critério de consumo.
B) A marginalização dos artistas mais politizados e a falta de um verdadeiro espaço alternativo.
C) Os valores narcisistas que predominam atualmente.

Apesar disso, diversos artistas tentam furar a barreira do mercado, tentanto criar espaços alternativos e conseguem ter uma boa recepção, mas não estão longe de competir com a música de consumo caracterizada pelo baixo senso crítico e escassa qualidade. O "rock brasileiro" atual é a cara desse fenômeno da cultura pop, cada vez mais pobre, cada vez menos nobre.

sábado, 13 de novembro de 2010

Reflexões sobre as greves do ABC e o Solidarność

Jayro de Sousa Costa


Lula e Lech Walesa

Há trinta anos, Brasil e Polônia estavam submetidos as ditaduras militares e dois personagens começaram a ganhar destaque no cenário internacional: Lula e Lech Walesa.

Lula e Walesa em 1980

Brasil


O fim do milagre e a ascensão das lutas dos trabalhadores

No Brasil, o modelo econômico impantado pelo regime militar havia esgotado, o milagre econômico (1968-1974) privilegiou a concentração de renda, ao ponto de o Brasil ser considerado o país com maior desigualdade social. A classe operária brasileira que estava domesticada pelo sindicalismo pelego na época, ressurgiu com força no final dos anos 70, e duas vertentes sindicais tornaram-se referências durante esse período: A oposição sindical e o sindicalismo autêntico. Ambas se desenvolveram entre os metalúrgicos, a primeira em São Paulo e a segunda em São Bernardo do Campo, através da liderança de Luís Inácio da Silva, conhecido como Lula.
As greves do ABC tiveram inicio em maio de 1978, iniciada pelos operários da Scania Vaibs em São Bernardo do Campo, quando eles resolveram espontaneamente parar as máquinas, surpreendendo até mesmo as lideranças sindicais mais autênticas. Em seguida, proliferaram novas greves nesse ano, envolvendo não apenas os metalúrgicos, mas também as outras categorias. Na região do ABC, as greves tiveram mais sucesso, em razão do surgimento das novas lideranças sindicais, que combatiam por dentro a cúpula da estrutura sindical e defendiam a construção de um sindicalismo independente classista, de base e democrático.

A classe operária brasileira diz não ao arrocho salarial

Em São Paulo, a situação era mais complicada, pois a oposição sindical tinha que lutar contra a diretoria pelega, que na época era liderada por Joaquim dos Santos Andrade, mais conhecido por Joaquinzão, o mais famoso pelego sindical brasileiro. A oposição sindical priorizava a organização e a resistência nas fábricas e nos bairros operários, a partir da organização de base (comissões de fábrica) e desenvolvia as suas lutas fora da estrutura sindical.

O sucesso dos "sindicalistas autênticos" foi resultado em grande parte pelas lutas dos trabalhadores que já tinham experiência nas oposições sindicais e não apenas na liderança de Lula, que passou a ser o líder do movimento operário, em razão das fortes pressões internas que existiam dentro das fábricas.
Em março de 1979, as greves ganharam cada vez mais força, e nem mesmo o forte aparato repressivo do regime militar que interviu no sindicato, conseguiu dobrar a resistência dos trabalhadores. Lula e grande parte da sua diretoria, foram cassados e mesmo assim continuaram liderando o movimento. O regime militar subestimou a capacidade de luta dos trabalhadores, acreditando que a prisão dos líderes sindicais acabariam com a greve. Muito pelo contrário, a experiência no trabalho de base, em que os trabalhadores por conta própria desenvolviam as lutas horizontais, conseguiram derrotar o patronato e o governo, que foram forçados a negociar junto aos trabalhadores, em seguida, a intervenção no sindicato foi suspensa.

Lula e os operários do ABC

Nessa época, as lideranças sindicais juntamente com intelectuais, profissionais liberais, entre outros levantaram a palavra de ordem "por um partido dos trabalhadores". Essa oportunidade surgiu quando os militares resolveram acabar com o bipartidarismo (ARENA e MDB) em dezembro de 1979. Em fevereiro de 1980, o crítico de arte Mário Pedrosa teve a honra de assinar o manifesto de lançamento do Partido dos trabalhadores.
Em 1980, A greve dos 41 dias, demonstrou de fato a grande maturidade que adquiriu a classe trabalhadora frente a ditadura e o patronato. A greve iniciou em 31 de março, em razão da recusa por parte da burguesia, em aceitar a proposta dos trabalhadores de aumentar a produtividade em 7% condicionada a estabilidade de emprego durante um ano. O governo decretou a ilegalidade da greve, proibiu qualquer manifestação dos trabalhadores em assembléias e no Estádio de Vila Euclides, e prendeu as lideranças sindicais que foram enquadradas na Lei de Segurança Nacional.
No entanto, a classe trabalhadora novamente demonstrou a sua força contra o patronato e o estado ditatorial com seu aparato repressivo, desafiando-os e gritando em alto e bom som "Trabalhador unido jamais será vencido" . A manifestação do 1 de maio de 1980, o trigésimo primeiro dia da greve, simbolizou a vitória das luta dos trabalhadores, porque eles decretaram o fim da legislação e anti-greve e adquiriram a consciência que somente através das suas lutas, eles poderiam lutar diretamente contra o capital. O trabalho de base nas fábricas, nos bairros, e nas igrejas progressistas foi determinante para o sucesso dos trabalhadores.

Polônia
O solidariedade põe em xeque o capitalismo estatal dos comunistas


A Polônia vivia a era do capitalismo de estado que massacrava os trabalhadores. A economia estatal era dominada pela burucracia do POUP, o partido único local, a única propriedade privada permitida nessa nação. Enquanto isso, os trabalhadores eram explorados e produziam mais-valor que eram apropriados pelos burocratas poloneses que governavam com mão de ferro o país. Os sindicatos como qualquer país pseudo-comunista estava atrelado ao Estado e a cúpula do POUP. Qualquer iniciativa por parte dos trabalhadores, de criar um sindicato independente do Estado, e que representasse de fato os seus interesses, era brutalmente reprimida e os seus membros eram recrutados na prisão, nos hospitais psiquiátricos e, em casos mais extremos eram fuzilados.
Após a segunda guerra mundial, a Polônia se tornou como a maioria dos países da Europa oriental, um país subjugado sob as ordens da União Soviética. Assim como a Hungria (1956), a Tchecoslovaquia (1968), a Polônia se tornaria um dos maiores empecilhos ao imperialismo soviético, em razão da forte oposição nesses países, através da inúmeras revoltas que geralmente eram esmagadas pelos tanques moscovitas.
A Polônia tinha registrado uma série de revoltas contra o estado bolchevique polonês e ao imperialismo de Moscou. Em 1956, a luta dos trabalhadores conseguiu a libertação de 35 mil prisioneiros políticos, decorrente a promulgação da Anistia e, em seguida surgiram novas greves reinvindicativas em Poznam, na usina Zispo. O governo "socialista" resolveu não atender as reinvidicações operárias de democratizar o espaço de trabalho, diminuição da jornada de trabalho que chegava até as 16 horas , e do estado. Em resposta, os trabalhadores decidiram invadir a rádio estatal, forçando a abertura das prisões, e parte deles enfrentaram a polícia política stalinista. Resultado: 75 mortos, 900 feridos e 746 presos. Essas lutas foram o embrião do sindicato independente Solidariedade (Solidarność).

o solidariedade contra o capitalismo estatal

Durante a era 1955-1970, a Polônia desenvolveu o capitalismo estatal através da especulação financeira, tráfico de divisas, racionamento dos bens de consumo que deu origem a um imenso mercado negro e a procura de empregos para complementar o salário. Em novembro de 1970, surgiram novamente as greves nos estaleiros de Gdanky, Gdynia, Szczecin e Eblag, em razão do aumento dos preços alimentícios gerado principalmente pelo racionamento de bens de consumo. O governo recusou qualquer tipo de dialogo e reprimiu o movimento com tanques e metralhadoras.
Edward Gierek substituiu Wladyslau Gomulka no governo e após demitir boa partes dos operários envolvidos na greve, esvaziando o movimento, decidiu inaugurar a "era da propaganda do sucesso" fundada na industria de base e um forte apelo ao consumo que deu origem ao "milagre polonês", elogiada pelos países capitalistas ocidentais. Resultado: aumento colossal da dívida externa e uma crise interna que possibilitou o surgimento de um movimento sindical independente do estado "comunista".

operários no estaleiro Gdańsk

O Solidarność surgiu como uma organização de base por parte dos trabalhadores em agosto de 1980, nos estaleiros de Gdańsk, onde Lech Walesa e outros companheiros fundaram cladenstinamente o sindicato solidariedade, o primeiro sindicato independente do bloco soviético. O sucesso do movimento foi graças as lutas autogestionárias realizadas pelos trabalhadores nos locais de trabalho que desestrurou o verticalismo burocrático do sindicato oficial do país. Além disso, o Solidarność contou com apoio de amplos setores da sociedade, especialmente a Igreja Católica, liderado pelo cardeal Karol Woityla, que havia sido recentemente nomeado como papa João Paulo II.
O movimento sindical ficou caracterizado pelo pluralismo ideólogico, já que existiam correntes nacionalistas, socialistas independente e sobretudo a ala católica que era majoritária e radicalmente anti-comunista* (*bolchevista). Diante da força do movimento, o Estado "socialista" teve que reconhecer o direito de greve, eliminando o monopólio do poder da burocracia sindical aliada ao POUP.

Walesa lidera as greves

No inicio, o Solidarność pretendia criar uma república autogestionária, limitando o poder do Estado, através da autogestão das instituições, sem realizar uma revolução que destruísse o aparelho do estado. O sindicato alternativo polonês conseguiu mobilizar praticamente toda a sociedade e chegou a reunir 9 milhões de inscritos em um país com um contingente trabalhista de 12,5 milhões de pessoas.
A resposta do "estado operário" frente a insubordinação popular que ameaçava o poder do partido e do sindicato oficial foi apelar para o único recurso disponível: o exército. Em 13 de dezembro de 1981, o conselho militar de salvação nacional, liderado pelo ministro da defesa, o general Wojciech Jaruzelski deu um golpe de estado, salvando a burocracia e declarando o estado de guerra contra os trabalhadores.
O Solidariedade foi dissolvido pelo governo e as várias associações civis de estudantes, de jornalistas, profissionais liberais, surgidas naquela época, foram proibidas de se manifestar publicamente. O governo estabeleceu a Lei Marcial contra a desobediência civil punida com prisão e até mesmo pena de morte.
Apesar da forte repressão, o Solidarność continuou ativo clandestinamente e conseguiu de certa forma brecar as tentativas "reformistas" de Jaruzelsky. Em 1983, Lech Walesa recebeu o prêmio nobel da Paz, um golpe fatal ao governo "comunista", que impediu Walesa de receber o prêmio. Além disso, o papa João Paulo II teve um papel fundamental de incitar a resistência católica frente aos burocratas polonês que aos poucos tiveram que ceder gradualmente o poder, iniciando o fim do capitalismo estatal polonês, que teve fim em 1989.


Dois ex-operários que chegaram a presidência
Solidariedade ao neoliberalismo

Em 1989, o governo polonês e o sindicato selaram um acordo para a transição da ditadura a democracia que permitiu as eleições parcialmente livres, parcialmente porque o POUP queria manter a todo custo no poder. A exdruxula coalização levou Juarezky a presidência da república e o jornalista católico Tadeuz Mazowiecki, editor do diário do solidariedade, ao cargo de primeiro ministro. No governo, o solidariedade jogou no lixo o programa autogestionário, e aplicou o mais rigoroso liberalismo, que aparecia como a única viável a gestão estatista. Em 1990, em visita ao Brasil, o vice-presidente polonês Piotr Konopka chegou a afirmar essa pérola "vemos a economia de mercado a solução para o desemprego, a inflação e a ineficiência".
Em dezembro de 1990, Walesa chegou a presidência e deu a sequência ao programa ultra-liberal. O estilo autoritário e fanfarrão passaram a ser marcas registradas do novo Walesa, nacionalista e religioso assumiu ser o macho que tanto a Polônia precisava, o "polonês de sangue puro". As reformas liberais diminuiram a inflação, estabilizou a economia, aumentou o mercado consumidor, mas ao mesmo tempo aumentou o desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais. Após cumprir o mandato presidencial em 1995, Walesa tirou a seguinte conclusão 1/3 da população melhorou, 1/3 da população continuaram na mesma e 1/3 da população piorou.

O Lulismo

Lula começou a disputar as eleições em 1989, em meio a queda do muro de Berlim, que jogou no lixo o fajuto socialismo no Leste Europeu. O programa do partido defendia mudança em "favor da classe trabalhadora", nas quais estavam esses requisitos: recuperar o poder aquisitivo dos trabalhadores, através de reformas sociais: agrária, urbano, maior intervenção do estado na economia, saneando as empresas estatais, em detrimento as empresas privadas combatendo a especulação financeira e o não pagamento da dívida externa.
O discurso considerado à esquerda assustou as classes dominantes que fizeram de tudo para eleger Fernando Collor de Mello para impedir o avanço "totalitarismo vermelho" que contou com amplo respaldo dos grandes meios de comunicação. A Globo patrocionou a vitória de Collor, e ele conseguiu finalmente se eleger como presidente da república. Iniciava-se aí o neoliberalismo brasileiro levado mais adiante por Fernando Hernrique Cardoso.
Derrotado duas vezes por FHC nas eleições presidenciais de 1994 e 1998, Lula apereceu com um discurso diferente, o Lula light. O campo majoritário do PT apostou em uma proposta mais amena e improvável: humanizar o neoliberalismo, abandonando dessa forma, o discurso social-democrata que era característico do partido. Após ter vencido duas vezes as eleições em 2002 e 2006, Lula seguiu o mesmo modelo econômico, mas desta vez, ampliando o mercado consumidor com mais eficiência do que os antecessores, o que garantiu uma imensa popularidade. Nem mesmo as denúncias de corrupção ocorridos durante seu governo, e amplamente divulgado pela grande imprensa, que nunca foi simpática ao mandatário e sua trajetória de lutas foram suficientes para abalar a sua imagem.

O papel conservador dos sindicatos

Os sindicatos foram organizações criadas pelos trabalhadores para se defender da exploração capitalista. Esses orgãos surgiram espontaneamente através das associações dos trabalhadores, no inicio do século XIX. No entanto, a legalização do sindicato pelo estado capitalista permitiu o surgimento de uma burocracia sindical, na qual Engels denominou de aristocracia operária, que passou a defender os interesses do estado burguês.
Em ditaduras militares, geralmente uma parcela das direções sindicais passam a atuar em defesa dos trabalhadores como são os casos de Lula e Walesa. No entanto, as lutas dos trabalhadores não ficaram restritas apenas aos sindicatos, mas também fora dele, como as comissões de fábrica, comitês de lutas e conselhos operários como se registrou no Brasil e mais radicalmente na Polônia.
No Brasil, a luta sindical permitiu o surgimento de um partido surgido na base, ou seja, de baixo para cima, o Partido dos Trabalhadores. A grande novidade do PT era o fato de ser um partido que tentava se distinguir tanto da social-democracia como da estrutura leninista.
No entanto, as esperanças de construir um partido classista foram em vão, pois como qualquer partido, o PT assimilou a democracia representativa e a atuação parlamentar e todo iniciativa de base foram aos poucos sendo relegadas. A formação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em 1983, que esteve sempre ligada ao PT tentava combater os sindicatos pelegos, atuando de forma mais radical que as outras centrais, apresentando como sindicalismo autêntico. Outra ilusão! a CUT mesmo atuando mais radicalmente do que as demais centrais, incorporou a mesma estrutura verticalizante que se caracteriza todos os sindicatos, e as lutas autônomas por parte dos trabalhadores, como as comissões de fábricas, surgidas na empresas, logo elas foram transformadas como meios de transmissão dos dirigentes sindicais.
Esses fatos explicam a razão do caráter conservador dos sindicatos que atuam em defesa dos trabalhadores, mas especificamente em questões pontuais, como é o caso da diminuição das horas de trabalho, aumentos salariais. Quando as empresas tentam modificar as condições de trabalho, aumentando a tecnologia, geralmente os sindicatos cedem a pressão. Os dirigentes sindicais, ao contrário do trabalhador comum, não correm risco de serem despedidos e, inclusive os sindicatos conforme o seu crescimento entram a fazer parte da jogatina do mercado capitalista como é o caso dessa reportagem que está nessa página:
Os fatos comprovam que os sindicatos não representam os trabalhadores e é praticamente impossível acreditar que esses orgãos possam servir para uma atividade revolucionária como afirmam as seitas leninistas. Os sindicatos servem mais para disciplinar a mão-de-obra capitalista e, a maioria dos trabalhadores nem sequer conhece quem são os dirigentes sindicais. Esse fenômeno é mundial!
No Brasil, a luta dos trabalhadores durante as greves do ABC (1978-1980) abalou o regime militar, mas não o suficiente para derrotá-lo. A maior parte dos membros vindos da ditadura, continuaram a exercer o poder político e econômico e muitos deles, atualmente são aliados ao governo do PT.
Na Polônia, a classe operária por pouco não implantou uma república autogestionária, mas um golpe de estado, atrapalhou os planos, a responsabilidade das lideranças sindicais foram de não oferecer resistência por temerem a invasão do exército soviético e terem deixado o aparelho do estado intacto. Somado a isso, a influência da Igreja Católica que temia uma forte radicalização que colocasse em risco a vida do papa João Paulo II e também a própria estrutura da Igreja.
No entanto, deve ser destacado o papel não apenas de Lula e Walesa, mas principalmente dos trabalhadores, que desafiaram dois regimes opressivos de capitalismo distinto, e conseguiram mesmo parcialmente, concessões para melhorar as condições de luta para combater a exploração feroz que eles foram e ainda são submetidos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cinco Mitos sobre o Marxismo

Jayro de Sousa Costa


1) Marx inventou o comunismo


O comunismo não foi inventado por ninguém! O comunismo surgiu no momento em que o ser humano veio a terra e foi a primeira forma de organização onde eles viviam de acordo com a sua capacidade e a sua necessidade, isto é, não existiam classes sociais e nem distinções sociais. Esse tipo de organização acabou se dissolvendo em certos locais, a partir do momento em que essas populações passaram a produzir mais do que consumir, formando o
excedente. A partir de então, surgiram a propriedade privada, o Estado para garantir a sua manutenção, as classes sociais e a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual. O excedente foi apropriado por uma minoria que começou a dirigir a sociedade de acordo com os seus interesses, a partir do momento em que a divisão social começou a distinguir o trabalho em duas formas: o trabalho de planejamento e o trabalho da execução.

Os primeiros pensadores que abordaram as desigualdades entre os homens foram os filósofos gregos (Platão, Sócrates, Aristóteles entre outros) e em seguidas por outros pensadores nas mais variadas épocas. No entanto, foram os iluministas que passaram a enfatizar as desigualdades entre os homens, em especial Jean Jacques Rosseau, que afirmou a existência de duas formas de desigualdades: a natural e a social, essa última os próprios homens que produzem. Daí é a celebre frase: O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe".

O desenvolvimento do capitalismo e as revoluções burguesas que prometiam liberdade, igualdade e fraternidade e que nunca foram compridas, acabaram desenvolvendo o pensamento socialista, que sempre existiu em diversas sociedades, mas a sua elaboração cientifica só foi possível através da sociedade capitalista que desenvolveu o trabalho assalariado e seu agente transformador o
proletariado. Os primeiros pensadores socialistas surgiram ainda na revolução francesa, através dos jacobinos, que tentaram implantar em um curto período a tentativa de expandir a igualdade social. No entanto, essa tentativa por parte dos jacobinos fracassou, em razão da forte repressão por parte setores mais conservadores e também ao autoritarismo deles que tentaram implantar a força as reformas mais radicais da revolução francesa.

No século XIX, a revolução industrial espalhou para toda a Europa, e os primeiros pensadores socialistas foram denominados utópicos por acreditar que o socialismo seria realizado por vias pacificas, através da harmonização das classes sociais. Em seguida, surgiram os pensadores anarquistas, que acreditavam na necessidade de uma revolução social para destruir o Estado capitalista e a propriedade privada. Os maiores pensadores foram Bakunin e Prodhom, o primeiro era defensor da autogestão como proposta de socialização que viria a partir do momento da destruição do Estado. O segundo acreditava em um compromisso entre a pequena propriedade individual e coletiva.

O pensamento de Karl Marx surgiu aí, no entanto ele havia feito um estudo sistemtico e totalizante da história e descobriu que a
luta de classes é o fator que movia a história. Nesse momento, Marx fez a maior descoberta no campo filosófico, o materialismo histórico-dialético. Essa teoria afirma que o homem é um ser produtor que através das relações sociais ligadas as forças produtivas ele pode mudar e transformar a realidade social. O capitalismo é a sociedade que oferece as condições materiais para chegar ao comunismo

Marx foi crítico dos socialistas utópicos e de Prodhom, por apresentarem propostas abstratas pequeno burguesa para a transformação social. Outro pensador socialista da época, Auguste Blanqui acreditava que somente uma minoria organizada através da conquista do Estado poderia libertar o proletariado, daí que surgiu o termo de ditadura do proletariado. Marx foi crítico ferrenho dessa ideia, mas roubou a expressão ditadura do proletariado como a conquista da democracia de fato.

Em relação a Bakunin, as polêmicas foram em relação a questão do Estado e ao processo eleitoral.

Para Marx, a partir do momento, em que a classe operária inicia a sua luta contra a burguesia ela deve utilizar
momentaneamente o Estado, especialmente o aparato repressivo para assegurar a sua defesa contra a burguesia em um momento de luta e após terminada a luta o Estado deveria desaparacer. Para Bakunin, essa proposta era irrealizável porque o Estado sempre foi um instrumento da classe dominante, e o que poderia acontecer era o surgimento de uma burocracia vermelha que iria se voltar contra a própria classe operária. No entanto, após o surgimento da Comuna de Paris em 1871, a primeira manifestação de autogoverno e autogestão econômica da história moderna que destruiu os orgãos burocráticos que constituem o Estado e que durou dois meses. Marx mudou radicalmente de opinião, em relação da utilização do Estado para chegar ao socialismo.

Após a forte repressão desencadeada pela burguesia contra os trabalhadores, Marx acreditava na necessidade de um
partido político diferenciado, oposto a todos os partidos das classes dominantes. O partido disputaria as eleições apenas para melhorar as condições de luta dos trabalhadores contra o domínio burguês e não seria um instrumento que estava acima das organizações dos trabalhadores . Bakunin assim como Proudhom, se opôs radicalmente a participação ao processo eleitoral. Para ele, a eleição era uma armadilha burguesa contra os trabalhadores. Marx também não acreditava no processo eleitoral, mas ressaltava que o papel do partido político serviria apenas para prevenir a repressão contra os trabalhadores.

2) Marx inventou o conceito de ditadura do proletariado em que haveria uma etapa de transição (socialismo) onde a classe trabalhadora utilizaria o poder do Estado para a chegada do comunismo.


Marx não inventou o termo ditadura do proletariado, quem criou essa designação foi Auguste Blanqui. Blanqui como foi ressaltado, acreditava que somente uma minoria organizada e conspiradora poderia efetivar a ditadura do proletariado através da conquista do poder do Estado.

"
Os blanquistas - como nota Engels na sua introdução a guerra civil em França (1871), de Marx -, criados na escola de conspiração, ligados por uma disciplina rígida, admitiam a tomada do poder do Estado por uma minoria organizada que governaria de forma ditatorial e centralizada".
Curiosamente foram os próprios partidários de Blanqui que proclamaram a Comuna de Paris, conclamando a todos a se federalizarem. Marx então rouba o termo para indicar a ditadura do proletariado como a conquista da democracia real por parte do proletariado.

Em razão da conquista do Estado, Marx inicialmente acreditava que os trabalhadores deveriam se apropriar do aparelho Estado, todavia ressaltava que era apenas para se proteger dos ataques da burguesia. Após a Comuna de Paris, Marx muda radicalmente de opinião, ressaltando que o Estado deveria ser suprimido a partir do momento em que os trabalhadores tivessem o domínio e o controle dos meios de produção.

Ainda hoje há aqueles que pensam e afirmam que Marx era um defensor da estatização e por meio do partido político revolucionário, esse usaria o poder do Estado e, dessa forma a estatização passou a ser confundida com socialização e socialismo, e que após todos os países chegaram ao "socialismo estatizante" a sociedade enfim iria alcançar o comunismo. Se trata de uma falácia, mesmo porque no tempo em que Marx viveu, os partidos "denominados de esquerda" nem existiam, e quando eles surgiram, a partir do final do século XIX, Marx já os criticava, afirmando sabiamente "a única coisa que eu sei é que não sou marxista". O desenvolvimento dos partidos políticos de esquerda e o crescimento eleitoral, assim como a regulamentação dos sindicatos, permitiu o surgimento de uma burocracia sindical e partidária que passaram a agir em defesa delas mesmas contra os próprios trabalhadores.

Através dessa burocracia deu origem a falsa divisão de socialismo e comunismo: a primeira se confundiu com estatização e a segunda com autogestão, pois Marx jamais afirmou que existiria uma fase de transição para se chegar ao comunismo. Apenas ressaltou que a passagem para o comunismo
necessariamente teria que se apropriar do aparato estatal para destruí-lo, todavia como já foi dito após a Comuna de Paris em 1871, ele rompeu com essa concepção.

3) A social-democracia e o bolchevismo são as correntes que mais se aproximam do pensamento de Marx e que influenciou a formação de partidos de esquerda. Ele elaborou a teoria de vanguarda, na qual um pequeno grupo de intelectuais dirigiria a luta do proletariado para a conquista do Estado.


O pensamento de Marx, certamente influenciou os partidos de esquerda, mas nenhum partido de esquerda seja ele social-democrata (reformista) e/ou bolchevique (minoria revolucionária) não tem nenhum propósito com o marxismo.

O esmagamento da Comuna de Paris em 1871 e a enorme repressão desencadeada sobre os trabalhadores, coincidiu com o surgimento dos primeiros monopólios e o desenvolvimento de uma classe de gestores burocratas que viabilizaram o surgimento dos primeiros partidos operários.

Intitularam-se operários porque integravam em suas fileiras massas operárias, todavia as suas funções eram idênticas aos partidos burgueses. Esses partidos eram contra a gestão econômica e política pela classe operária e propunham o controle e a gestão do aparelho do Estado separado das massas produtoras que dela permaneciam afastadas.

A criação desses partidos políticos de esquerda se deu a partir da criação da II Internacional dos trabalhadores em 1889, na qual os grupos anarquistas foram impedidos de participar. O partido mais importante da época foi a social-democracia alemã que inicialmente ganhou apoio de Karl Marx e o principal teórico era
Karl Kaustky, um dos primeiros a divulgar a obra de Mark na Alemanha, e que publicou a quarta edição do livro O Capital.

Kautstky desenvolveu a concepção de
teoria da vanguarda. Segundo essa teoria, os trabalhadores entreguem a si mesmos chegam somente a uma visão economicista do processo social; a consciência política vem de fora através da vanguarda que fala em seu nome por meio dos intelectuais portadores da ciência e do conhecimento.

Lênin
retoma essa visão no livro O que fazer? (1902), onde define sua concepção de partido, em que profissionais dedicados ao partido deveriam ser a vanguarda da revolução, pois a consciência revolucionária depende do conhecimento das leis da história, da economia e filosofia por considerar os trabalhadores baixo o nível cultural dos trabalhadores.

Dessa forma, o partido aparece como o guardião da verdade operária que deve dirigí-la e organizá-la conforme a missão histórica para levá-los ao socialismo. A pretensão vanguardista é doutrinar os trabalhadores e subordinar a prática proletária aquilo que o partido define o que é correto. Como isso é difícil esses partidos são sempre minoritário.

O bolchevismo surgiu da fracção majoritária (do russo bolchevis - maioria) do Partido Social-democrata Russo que era subordinada a social-democracia alemã. Os bolcheviques aproveitaram de uma revolução socialista autêntica realizada pelos sovietes (os conselhos operários) que eram organizações horizontais, ou seja, sem hierarquias (verticalismo, de cima para baixo) que ainda estavam desenvolvendo para aplicar um golpe de Estado, e que ficou famoso na história ironicamente como a Revolução de Outubro de 1917. Na realidade se tratava de uma contra-revolução, na qual os bolcheviques já nos primeiros dias de governos destituíram os conselhos operários, inaugurando o primeiro estado de capitalismo estatal, conhecido falsamente como socialismo.

Desde o inicio a "Revolução de Outubro", o processo de burocratização conforme era a regra do partido, atuou para submeter os operários aos ditames da "direção revolucionária", que inclusive aplicou técnicos provenientes da burguesia para ditar o ritmo de produção nas fábricas antes mesmo do inicio da guerra civil, em 1918. Segundo Maurice Brinton, os bolcheviques destruíram os conselhos de fábricas, de operários, na qual os trabalhadores estavam gerindo por conta própria as atividades econômicas e políticas. Os trabalhadores não conseguiram destruir o aparato estatal e em razão disso, se tornaram presas fáceis dos bolcheviques, que para chegar ao poder recorreram aos sovietes.

A teoria de vanguarda é uma concepção da
burocracia na sua luta para conquistar o poder estatal para dirigir a classe trabalhadora no caminho do socialismo. Por trás dessa teoria esconde um elitismo, pois tais ideias sempre foram utilizadas para a justificação de todas as práticas de dominação. Os trabalhadores são vistos apenas como "agente de produção" que precisam ser guiados pelas lideranças partidárias e sindicais. As ações autônomas quando são criadas pelos próprios trabalhadores como os conselhos operários, comissões de fábricas e a exigência da autonomia operária são considerados com uma provocação por parte dos dirigentes sindicais e partidários.

Aqueles que têm afinidade com o vanguardismo elitista não conseguem enxergar a essência do marxismo:
É a existência social que determina a consciência e não as ideias! ou seja, não existe teoria sem ação. Portanto, tanto os social-democratas com sua formação policlassista de harmonização entre o capital e o trabalho, quanto os bolchevistas (leninismo, stalinismo e trostkismo) com a sua ditadura partidária não possuem nenhuma identificação ao pensamento de Karl Marx que sempre enfatizou:
A emancipação da classe trabalhadora é obra dela mesma.

O linguista estadunidense Noam Chomsky mostra realmente o que foi o bolchevismo




4) A historiografia "marxista" se baseia na evolução dos modos de produção. (Comunismo primitivo, , escravismo, feudalismo, capitalismo, socialismo) reflete fielmente o pensamento de Marx. Pois, a dialética marxista (tese-antitese-sintese) baseada no materialismo histórico comprova que após o capitalismo, o próximo modo de produção é o socialismo.
Falso! Essa é a maior forma de deformação do pensamento de Marx. Marx estudou a história não a partir do modo de produção, mas das relações sociais que constituem as lutas de classes que dão origem as relações de produção, conjuntamente com as forças produtivas que são os componentes básicos do modo de produção, a base material da sociedade.

As cinco fases comunismo primitivo, escravismo, feudalismo, capitalismo, socialismo que constituem o dito "marxismo ortodoxo" não aconteceram em todos os lugares. Para se ter uma ideia, o feudalismo existiu apenas na parte ocidental da Europa, com a junção da Igreja Católica Romana e os povos germanos. No mesmo período, em certas nações africanas existiam um modo de produção diferente, assim como existiu na Ásia, no continente americano que dificilmente tinham semelhança com o feudalismo.

Marx reduz a esses modos de produção sem estabelecer uma sucessão obrigatória e nos últimos anos de vida rompeu definitivamente com a teoria evolucionista dos modos de produção, criticando o
economicismo de muito de seus adeptos.

A história comprovou recentemente que uma revolução social necessariamente não será socialista. As tais revoluções socialistas não passaram de revoluções burguesas sem burguesia, criando um capitalismo de estado tão nefasto e até pior que o capitalismo privado.

Aqueles que se autoproclamam "marxistas-leninistas", por exemplo, confundem aspecto jurídico das relações de propriedade (propriedade coletiva de Estado, propriedade capitalista privado) com o aspecto das relações de produção (socialistas, capitalistas)

Desta forma, a propriedade estatal é confundida com propriedade coletiva e as relações de produção socialistas, portanto é possível afirmar que se existe propriedade de Estado e planificação econômica existe socialismo. Todavia, há algo a acrescentar o aparelho do estado é o que determina a concentração de propriedade e de capital que pode ser gerida pelos capitalistas privados e/ou pelos gestores burocratas. Ou seja, estatismo de nenhuma forma é sinômino de socialismo como dizia Engels: A estatização nada mais é do que capitalismo coletivo real onde a burocracia administra e torna-se a classe dominante.

Os países ditos "socialistas" tinham uma burocracia exploradora e repressora que faziam os trabalhadores serem explorados através dos planos de metas, como os plano quinquenais. Essas sociedades curiosamente levaram ao capitalismo ao extremo, pois é o Estado que reproduz o capital. A falta de iniciativa individual e coletivo, assim como as faltas de liberdades levaram essa sociedade ao colapso e dificilmente terão futuro.

Então cabe a seguinte pergunta: Estatização ou autogestão.

A sociedade socialista só pode ser pensada através da extinção do Estado, do intermediário econômico (os gestores tecnocratas e os capitalistas particulares), os intermediários da gestão social (os políticos profissionais), ou seja, os trabalhadores devem gerir diretamente a economia e o política eliminando os intermediários, implicando na destruição dos partidos políticos.

Segundo os partidários do estatismo, o partido por meio do Estado garante o controle operário dos meios de produção. No entanto, há um diferença crucial entre gerir (dirigir/administrar) e controlar. Gerir significa tomar as decisões para si, como pessoa ou a coletividade soberana, com pleno conhecimento de todos os fatos relevantes, ou seja, ter o domínio de todo o processo. Controlar
significa supervisionar, inspecionar ou verificar as decisões feitas por outros. O controle implica uma limitação da soberania ou, no melhor do casos, indica uma dualidade de poderes, na qual algumas pessoas determinam os objetivos enquanto as outras se preocupam que sejam os meios apropriados para alcançá-los.

A autogestão significa a eliminação completa da divisão do trabalho intelectual e manual. Ou seja, os indivíduos são ao mesmo tempo planejadores e executores do seu próprio trabalho tendo o conhecimento e o domínio de todo processo de produção. Nessa sociedade, as diferenças sociais são mínimas porque ninguém explora o trabalho alheio. Enquanto isso, o controle operário mantém a divisão entre o trabalho intelectual dos dirigentes e o trabalho manual dos trabalhadores dirigidos pelo partido.

Isso não significa que essa sociedade será feita em um futuro distante ou próximo, pois no século XX, em diversos países a autogestão social teve êxitos positivos e só foi derrotada através da atuação do mercado capitalista, do Estado e também com a colaboração dos partidos políticos e sindicatos que em fase revolucionária, geralmente controlam e/ou tentam frear as ações autônomas da classe trabalhadora.

5) Marx era Marxista

Marx era um pensador original e não acreditava que suas idéias pudessem ser levadas em consideração se não tivesse de acordo com as pretensões e interesses da classe trabalhadora.

Dizia Marx: "Toda teoria que fosse produto da imaginação, e que tentasse mudar a realidade, estaria fadada ao fracasso". Ou seja, o próprio pensamento de Marx não pode ser transformado em uma doutrina, pois acaba perdendo a sua atenticidade. Os partidos e grupos vanguardistas que transformaram o seu pensamento em um dogma, em vez de desenvolver o marxismo, criaram um pseudomarxismo que atualmente é a ideologia dominante nos dias atuais.

Mas afinal o que é o marxismo?




Quem deu a melhor definição sobre o que é marxismo foi o filosofo alemão Karl Korsch: o marxismo é a expressão teórica do movimento operário. Em seu livro Marxismo e Filosofia, ele aplica o método materialista histórico ao próprio marxismo, visando romper com o dogmatismo e possibilitando compreender a evolução do marxismo através das mudanças sociais, especialmente pelo desenvolvimento do movimento operário. Segundo Korsch, o marxismo se tornou uma filosofia vulgarizada pelos dirigentes partidários e pela academicos que trasformaram-na em uma ideologia e um objeto de analise sem nenhuma preocupação e compromisso com o desenvolvimento com a luta da classe trabalhadora.

Crítico feroz da social-democracia e em seguida do bolchevismo, Korsch se aliou a corrente dos
comunistas de conselhos, que tinha como maior teórico o astrônomo holandês Anton Pannekoek. Segundo essa corrente, o marxismo só pode ser desenvolvido por meio das ações autônomas por parte dos trabalhadores como os conselhos operários, organizações horizontais onde os trabalhadores dirigem por conta própria as suas lutas contra o capital sem a necessidade de intermediários. Os conselhos operários representam a forma proletária de emancipação e constituição de uma nova sociedade, verdadeiramente comunista.

O pensamento de Rosa Luxemburgo, conhecido como luxemburguismo, defendia a tese da espontaneidade da classe operária como meio de alcançar o socialismo, e foi antecessor do comunismo de conselhos. Essa corrente surgiu em razão do fracasso da revolução socialista na Alemanha onde ficou evidente o papel contra-revolucionário do partido social-democrata e os sindicatos controlados por eles.

As organizações burocráticas como os partidos políticos e os sindicatos são organizações contra-revolucionárias porque elas têm como objetivo controlar os trabalhadores e não desenvolver as suas lutas. Dessa forma, a atuação parlamentar nos partidos de esquerda e os sindicatos servem apenas para a criar e fortalecer uma burocracia que fala em nome dos trabalhadores, contribuindo para o afastamento dos trabalhadores das decisões políticas.

Korsch e Pannekoek foram os primeiros a denunciar "o regime comunista" soviético liderados por Lênin e Trostsky como
Capitalismo de Estado, em que o partido comunista se tornou um órgão de dominação sobre os trabalhadores. A burocratização que muitos atribuem a Stalin na verdade foi iniciada pela dupla Lênin e Trostky, e Stalin qualificava esse último como o patriarca dos burocratas.

O Comunismo de conselhos representou numa atualização do marxismo, assim como outras correntes como a corrente Socialismo e bárbarie
de Cornelius Castoriadis (pseudonimo Paul Cardan) e a Internacional Situacionista de Guy Debord, autor do célebre livro e documentário A sociedade do Espetáculo. Todavia essas correntes ainda hoje são marginalizadas pelos meios acadêmicos, pois segundo o sociologo brasileiro Nildo Viana, o marxismo autêntico é marginal por sua essência.

Quem afirma que após a queda do Muro de Berlim, o marxismo morreu comete um equívoco grave, pois o que está em crise e está fora de moda atualmente é o marxismo dos
partidos políticos e o bolchevismo que na avaliação do historiador alemão Arthur Rosenberg, em seu livro História do Bolchevismo, não teve nada a ver com a expressão da classe trabalhadora refletindo apenas em uma doutrina partidária para subjugá-los . A social-democracia atualmente praticamente deixou de existir, o crescimento eleitoral e a consequentemente burocratização dos partidos e sindicatos que estão ligadas entre si não representam qualquer probabilidade até mesmo de implementação de reformas sociais.

O "marxismo ortodoxo "está quase morto, mas não Marx, o seu pensamento é completamente avesso as interpretações ortodoxas que podem ser transformadas em dogmas. O marxismo é por essência heterodoxo, pois enquanto houver capitalismo, o filosofo barbudo estará sempre atual.

Bibliografia

Brinton, Maurice. Los bolcheviques y el control obrero. Ruedo Ibérico, 1971
Bruno, Lucia. O que é autonomia operária?. São Paulo, Brasiliense, 1985
Makhaïsky, J.W. A ciência socialista, A nova religião dos intelectuais. In TRAGTENBERG, M. Marxismo heterodoxo. São Paulo. Brasiliense, 1981.
Motta, Fernando C. Prestes. O que é burocracia?. São Paulo, Brasiliense, 1985
Tragtenberg, Maurício. Reflexões sobre o socialismo. São Paulo, Moderna, 1986
Tragtenberg, Maurício. Revolução Russa. São Paulo, São Paulo, Unesp, 2007
Viana, Nildo. O que são partidos políticos. Goiânia, Germinal, 2003

sábado, 23 de outubro de 2010

Aula de democracia


Eis uma verdadeira aula sobre o que é democracia com o professor J. Vasconcelos. Ele faz uma crítica persistente e corajosa sobre a democracia representativa.


Parte 1




Parte 2




Há aqueles que afirmam que democracia pura e de fato seja uma ilusão. Pois diante disso cabe a seguinte pergunta: O que é mais utópico acreditar na democracia real ou a democracia representativa?

sábado, 16 de outubro de 2010

Vaffanculo democrazia rappresentativa!


Para aqueles que têm a ilusão de que a democracia representativa seja o sistema político mais adequado da história da humanidade. Vejam esse vídeo:




Beppe Grillo é um famoso humorista italiano que há anos realiza criticas viscerais em relação ao sistema político italiano e também aos políticos profissionais. Nesse evento, o Vaffanculo day (dia de tomar no cu) ele convida o jornalista e escritor Massimo Fini, um dos maiores críticos da democracia representativa e que nesse vídeo ilustra perfeitamente a situação política dos dias de hoje.

Apresentação de Beppe Grillo: Gostaria de dar a palavra a este descarado que sempre foi assim, que sempre foi do contra. Ele escreveu livros extraordinários. É essa pessoa aqui Massimo Fini. Obrigado Massimo.

Eu estou de acordo como é obvio sobre os três pontos fundados no Vaffanculo day (dia de tomar no cu), ou seja, o fato de que não sejam submetidos ao parlamento, que não estejam os mesmos parlamentares por dois mandatos e que possa voltar a votar e a escolher os nossos candidatos. Acredito que isso seja um modo para mostrar apresentável alguma coisa que de apresentável não existe e que é indecente, que é uma fraude. Isso se chama de democracia representativa. Eu tenho definido e defino a democracia representativa, em uma maneira como todo o respeito, uma forma de enfiar no rabo as pessoas com seu consenso, especialmente para as pessoas mais humildes. Além do mais, nunca se entendeu bem o que seja de fato a democracia representativa. Norberto Bobbio, que dedicou toda a sua laboriosa vida a esse tema, não conseguiu solucionar esse problema. Indica como essenciais a democracia representativa uma vez nove elementos, uma vez seis, uma vez três. No entanto, levamos em consideração dois elementos que são considerados da vulgata como essenciais à democracia, isto é, o voto é igual – one man one vote – como dizem os anglo-saxões, o voto é livre. Pois bem, o voto não é igual: o consenso é falsificado. O voto não é igual pela razão definida que ilustrou aquela que é chamada a escola elitista italiana dos primeiros anos do século XX, Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels. Diz Mosca: “Cem que agem sempre em concordância e de acordo prevalecerão sobre mil que agem livremente”. O consenso não é livre porque amplamente condicionado pelos meios de comunicação que estão nas mãos das mesmas pessoas e que, não por acaso, se chamam de instrumento de consenso.

Na realidade a democracia representativa é um sistema de oligarquias, de minorias organizadas, de aristocracias disfarçadas que esmagam o cidadão singular, o homem livre que não quer ser humilhado a ser enfeudado nessas oligarquias, os partidos e outros lobby econômicos e criminosos frequentemente ligados entre si. A democracia representativa seria aquilo que o pensamento liberal queria valorizar – méritos, capacidades, potencialidades – e o cidadão ideal se torna a vítima designada.

Sem fazer muita teoria, vemos que todos nós não valemos nada, que a nossa voz não é escutada. Alguns anos atrás, na Praça San Giovanni, reuniram-se mais de um milhão de pessoas sobre um tema como as leis ad personaum, um tema dificílimo de fato, pois é mais fácil reunir as pessoas sobre temas econômicos. Pois bem: não houve nenhuma resposta nem a direita e nem a esquerda. Aliás, a esquerda afirmou constantemente: “não me confundirá como um girontodino”* como se manifestar nas praças não fosse o primo direito político do cidadão que vem antes do voto.

O problema é da democracia mundial, ocidental mas o sistema italiano, e Grillo ilustrou muito bem, existe degenerações intoleráveis. Dizia Hans Kelsen, que não é um marxista e não é um extremista talibã, que a democracia representativa é um sistema de ficção e afirmava que a função da democracia representativa é de dar a sensação de liberdade e, perguntava até quando essa extraordinária cisão entre realidade e ideologia possa continuar. É a pergunta que eu tenho feito há muito tempo. Naturalmente as democracias surgidas através do banho de sangue puseram uma tampa conceitual, uma espécie de norma de fechamento, afirmando que a democracia é o fim e o fim da história, pela razão que nós seremos condenados a morrer democratas. Eu acredito que, como qualquer sistema que não respeita nenhum dos seus pressupostos, cedo ou tarde cairá. Não será um evento como esse organizado maravilhosamente por Beppe, não será certamente a geração de Grillo ou da minha. Mas cedo ou tarde essa trapaça desse gênero deve ser eliminada. Obrigado.

Massimo Fini

Tradução: Jayro de Sousa Costa

* girontondino = movimento de cidadãos italianos surgido nas grandes cidades italianas em 2002 em defesa da democracia. O movimento se caracteriza pela crítica ao governo de Silvio Berlusconi e também aos partidos de esquerda, estes considerados por fazer uma oposição branda ao magnata dos meios de comunicação.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Todos Juntos


Essa canção é um dos temas mais importantes na história da música chilena, composta pelo grupo de música folclórica Los Jaivas, um dos mais importantes do cancioneiro latino-americano. A música dedico não apenas ao drama dos mineiros chilenos, mas a todos aqueles que buscam uma sociedade mais humana. A metafora da caverna de Platão nunca ficou tão evidente como foi esse caso no Chile e que comprova todas as falsas teses de que o ser humano é um ser auto-destrutivo. O ser humano mostrou mais uma que o espírito de solidariedade ainda não morreu, apesar de vivermos em uma era onde o espírito indivualista nos fazer acreditar que o homem é o lobo do homem.
Deixemos as discussões bobas de lado e todos juntos vamos viver!




Todos Juntos

Los Jaivas

Hace mucho tiempo que yo vivo preguntándome
Para qué la tierra es tan redonda y una sola no más
Si vivimos todos separados
Para qué son el cielo y el mar
Para qué es el sol que nos alumbra
Si no nos queremos ni mirar

Tantas penas que nos van llevando a todos al final
Cuantas noches, cada noche, de ternura tendremos que dar
Para qué vivir tan separados
Si la tierra nos quiere juntar
Si este mundo es uno y para todos
Todos juntos vamos a vivir

Tradução

Faz muito tempo que eu vivo me perguntando
Para que a terra é tão redonda e uma só não mais
Se vivemos todos separados
Para que são o céu e o mar
Para que é o sol que nos ilumina
Se não queremos nem olhar

Tantas penas que nos vão levando a todos ao final
Quantas noites, cada noite, de ternuna tendemos que dar
Para que viver tão separados
Se a terra nos quer juntar
Se este mundo é um e para todos
Todos juntos vamos viver

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A demissão de Maria Rita Kehl e o papel da mídia



crédito: Terra Magazine

A psicanalista Maria Rita Kehl foi mais uma vítima por parte dos grandes meios de comunicação, ligados ao candidato a presidência da república José Serra, por manifestar sua opinião através do artigo intitulado dois pesos duas medidas no jornal Estado de S. Paulo em que ela critica a opinião pública por desqualificar o voto dos setores mais pobres em apoiar o governo Lula, devido aos programas sociais que tiraram milhões destes da situação de miseralibilidade.

O que aconteceu com ela? Foi demitida sumariamente! E ao que tudo indica por pressão de José Serra, que já operou outras demissões e afastamentos de jornalista na TV Cultura, como foram os casos Gabriel Priolli, Herodoto Barbeiro e outros jornalistas que realizarem várias matérias críticas sobre a gestão tucana no Estado de S. Paulo.


Quem tem acompanhado ultimamente sabe que a TV Cultura está em um caos generalizado, em razão do desmonte público realizado pelas sucessivas admistrações tucanas, que operam uma verdadeira privatização no canal. Os funcionários sofrem com essa situação através da precarização do trabalho, dos reajustes salariais, assédio moral e outras modalidades que todos os trabalhadores assalariados conhecem.


Os meios de comunicacão de modo geral, estão sempre a serviço do capital e dos políticos profissionais que mais se identificam em defesa do sistema capitalista. É claro que o governo Lula não é nenhum governo anticapitalista (é óbvio!) e nem mesmo chega a realizar uma política social-democrata, mas o fato de um ex-operário ter saído de uma posição de miséria e que atualmente ocupa espaços na "democracia representativa" cause arrepios a classe dominante e setores fascitóides de classe média como uma "ameaça ao
establishment" .

Na democracia representativa, os pobres de modo geral, geralmente apoiam candidatos que realizam programas assistencialistas que ofereçam algum tipo de vantagem e é essa a razão da grande popularidade de Lula. Pode criticar o assistencialismo, mas diante de uma sociedade que ainda carrega a marca da escravidão, qualquer tipo de apoio melhora as condições de vida da população. De nada adianta criticar o governo por denúncias de corrupção e pregar "a ética na política", a essência da democracia representativa é a corrupção que envolvem todos os partidos políticos. Estes por sua vez, são orgãos burocráticos que apresentam discursos diferentes, mas na prática operam igualmente com os seus pares. A ética na política só poderá ser concretizada quando a democracia representativa deixar de existir.


Lula sofre oposição por parte dos grandes meios de comunicação, por uma simples razão: a mídia perdeu o lugar de ser a porta-voz que mediava os interesses da classe dominante como se fossem os interesses de todos. Hoje esse espaço está sendo ocupado pela burocracia sindical, dos partidos políticos de inspiração social-democrata e outras organizações burocráticas que "representam" interesses de grupos minoritários como os movimentos feminista, negro, de homossexuais , e outros. Maria Rita Kehl apenas expressou a opinião da camada ascendente no governo Lula, e por isso foi punida, pois o jornal está favorável e a serviço da candidatura de José Serra.


Todavia, é necessário lembrar que, apesar de Lula e os seus apoiadores, criticarem a grande imprensa, pouco se fala que foi durante o seu governo, que se mais reprimiu rádios e canais de Tv comunitários. Na Venezuela, o governo Chavez ,usa e abusa desses instrumentos para contrapor a mídia privada para garantir o seu poder. As rádios e TV comunitárias tem uma autonomia bastante limitada, pois caso eles sejam utilizados pelo povo e para o povo e que ameaçam o poder, seja ele dos setores privados e também do próprio estado, o governo simplesmente corta o sinal e/ou oferece certas "vantagens", cooptando os ativistas mais radicais para poderem continuar com as suas transmissões.


Os meios de comunicação só poderão ser democraticos se estiverem sob o controle público. Não poderá ter nem interferência privada e nem estatal. O controle deverá ser de todos sem a necessidade de orgãos burocráticos que limitam a participação popular. Caso contrário, a liberdade de expressão será apenas usada e apropriada por esses mesmos grupos que em nome da "liberdade de imprensa" utilizam-se de mecanismos manipulatórios para manter o seu status quo. A liberdade só existe entre iguais.




terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Cara das eleições



crédito: movaut


"Ó Deus que mundo é esse, onde os loucos governam os cegos (Shakespeare)

As eleições no Brasil estão de mal a pior, obrigado. É cada vez nítido que a democracia representativa, não apenas no Brasil como no mundo em modo geral, passa por uma crise de identidade que poderá cedo ou tarde comprometer o seu futuro. A crise da representatividade é o reflexo da falta de legimidade dos políticos profissionais e a falta de perspectiva dos eleitores de transformar a sua realidade.

Os partidos políticos são instituições burocráticas que visam apenas a conquista do poder de estado e, são antidemocráticos em sua própria estrutura. Então cabe a seguinte pergunta: Por que votar? O voto obrigatório é democrático? Qual a razão da existência dos partidos políticos?


Infelizmente, a ideologia que sustenta a democracia burguesa afirma que o parlamento é um local de lutas e debates e que através do voto, o eleitor pode fazer a diferença, será mesmo?
Essa foi a maior mentira criada para fortalecer a manutenção do sistema capitalista.

Primeiro, por que as grandes mudanças que existiram na sociedade no século XX, não foi por meio da atuação do parlamento, e sim das lutas praticados pelos setores marginalizados da sociedade como os operários, as mulheres, os negros que aos poucos foram cooptados e corrompidos para atuar no sistema parlamentar. Inicialmente, esses setores tiveram beneficios quando foram incorporados no sistema, no entanto, acabaram se transformando em orgãos burocráticos e desta forma, afastaram de qualquer perspectiva de transformação que antes caracterizavam esses movimentos. A burocratização contribuiu para a despolitização e imobilização da sociedade.


Segundo, o parlamento é local de poder de grupos minoritários onde a maioria não tem voz e nem vez, a não ser por meio do voto. Os partidos de "inspiração socialista" ainda tentam aumentar a participação popular criando instrumentos que a principio serviram para contrapor a democracia burguesa, mas que não passam de mecanismos para a sustentação do poder desses partidos. No momento em que os trabalhadores buscam alternativas autonômas, o "representantes populares" tentam de todas as formas frear esse tipo de atuação para não perderem a sua influência nos movimentos sociais.


Terceiro, o parlamento é antidemocrático por essência:

1) Para atuar no parlamento necessita de dinheiro e /ou de fama,
2) Todos os partidos políticos são altamente burocráticos e os setores populares para poder se representar necessitam aos orgãos que aparentemente os defendem como os sindicatos,
3) Há um forte lobby dos setores economicamente privilegiados que impedem a participação popular,
4) O sistema favorece a corrupção, que é a regra e não a exceção,
5) os representantes não representam os representados, representam os seus grupos que vão desde o empresariado até a burocracia sindical.

A única diferença de uma ditadura e uma democracia em uma sociedade capitalista é que a primeira a política se restringe apenas a classe dominante e, a segunda é restrita para as massas. Ou seja, a ditadura em uma sociedade capitalista surge quando há uma crise institucional que ameaça o poder da burguesia. A democracia representativa serve para atender algumas demandas de "grupos oprimidos" que são facilmente cooptados e corrompidos para a atuar no sistema parlamentar e, desta forma serve para impedir o desenvolvimento de ações autônomas por parte da classe trabalhadora.


No Brasil, as eleições estão polarizadas em dois partidos:

O PT, um partido social-democrata que realiza um governo neoliberal de esquerda, isto é, aumenta a participação do estado na economia, mas não para atacar as causas nefastas do neoliberalismo, mas atacar apenas diminuir os seus efeitos. De fato, existe uma forte "parceria" público-privado, que nada mais é que uma privatização camuflada. O lulismo se caracteriza pelos programas sociais que impulsionaram o mercado interno, o aumento do salário real do trabalhador em especial dos setores públicos por meio de uma política macroeconômica estremamente conservadora.

O PSDB, só tem o nome de social-democrata, é um partido fortemente ligado ao neoliberalismo que se diferença do lulismo apenas na forma de condução. Defende a privatização mais acelerada das empresas estatais, é a favoravel a diminuição da presença do estado da economia assim como a máquina pública e "o aparelhamento do estado", isto é, congelamento de salários dos servidores públicos, menos investimentos em saúde, educação e outros serviços públicos.


Diante dessa quadro, o que pode se esperar é que independentemente do governo eleito não haverá mudanças. Dilma representa a continuação do governo Lula, mas ainda não se sabe o que se esperar dela. É bem provável, que tentará manter a mesma forma de atuação do governo Lula, mas será que terá a mesma habilidade do antecessor? Será que a economia estará segura as crises econômicas? A interferência do estado na economia será suficiente para que elas sejam evitadas? Será que a parceria do setor público e privado na economia terá força?


Serra por outro lado, mesmo se for eleito, terá que manter o assistencialismo que impulsionou o mercado interno caso não queira ter problemas, mas será que ele vai seguir isso a risca? Será que ele terá forças suficientes para elaborar o programa de seu partido? Será que ele vai tentar reeditar o período FHC, já que na atual conjuntura, as políticas neoliberais mais "autênticas" representariam um retrocesso e que pode impulsionar uma grave crise econômica? E como será a sua relação com os servidores públicos?


E a candidata Marina Silva representa mudanças? É claro que não. Tão falso como o discurso ecológico "políticamente correto" e ilusório "como capitalismo ecológico" onde ONGs aventureiras que a apoiam estão de olho para ganhar dinheiro na Amazônia, na qual lutam-se pela criação de parques ecológicos para "diminuir" a devastação e "preservar" a Amazonas, ou seja, nada mais que operar uma privatização da floresta amazonas, adotando um discurso semelhante ao do ex-vice presidente dos Estados Unidos, Albert Al Gore. Todavia, tanto o PT quanto o PSDB apresentam o mesmo programa em relação a Amazônia. Como diria Raul Seixas, a Amazônia é o jardim do quintal dos gringos.


Essa é a cara das eleições e nem duvide que a qualquer momento o PT e o PSDB inimigos hoje possam ser aliados amanhã, ou mesmo não, afinal políticos são todos iguais só que uns são mais iguais que os outros.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A democracia representativa tem futuro?


Eleições, eleições tempo de ilusões, nada melhor para iniciar esse texto sobre um tema que é bastante discutido, mas que poucos conseguem enxergar o óbvio: a falácia da democracia representativa. A sua ineficiência é proposital a ideologia da representatividade, em que sustenta a tese da necessidade dos cidadãos elegerem individuos para cargos admistrativos que supostamente representariam em defesa dos seus interesses.

A democracia representativa surgiu durante a Revolução Francesa em 1789, a partir do momento, em que a burguesia para se defender da desobediência popular que recusou a pagar impostos, resolveu criar a Assembléia Constituinte, para defender os seus privilégios, fazendo-se como representante geral "do povo". Na Assembléia criou dois grupos: no lado direito estavam os representantes dos setores mais ricos e mais conservadores e do lado esquerdo estavam os representantes "mais populares" como os pequenos comerciantes, a pequena burguesia, os artesãos, os camponeses.


Daí que deu origem ao termo direita e esquerda, ainda hoje usados, para designar que, a primeira representa os interesses da elite e, a segunda representa os anseios populares. Há também o grupo do centro, que nada mais é do que uma direita disfarçada, que costura alianças de todas as formas, sendo estes classificados por cientistas políticos, como grupos fisiológicos, ou seja, mudam constantemente de posição para ter maior representatividade e que de certa forma "contaminam" a direita e sobretudo a esquerda. Essa última para ter estabilidade no governo necessita desse apoio e quanto mais ela cresce mais se aproxima do centro e, desta forma, acaba se convertendo ao grupo da ordem, afastando qualquer "probabilidade de governo popular".


O desenvolvimento do capitalismo permitiu a abertura às organizações da classe trabalhadora no quadro institucional, que antes era reservada apenas a classe dominante. No entanto, a inserção das organizações populares teve um efeito paradoxo. Se por um lado garantiu mais força para o atendimento de seus interesses, por outro lado desenvolveu-se uma burocrácia que passou a auxiliar aos interesses da classe dominante, a medida que, estas se transformaram em instrumentos de manutenção da ordem capitalista, passando a defender interesses contraditórios como "a harmonização entre o capital e o trabalho" como é o caso dos sindicatos e os partidos políticos.

Em todas as partes do mundo, a democracia representativa sofre críticas por duas razões: primeiro porque a maioria dos representantes pertencem a classe social privilegiada e representam mais os interesses econômicos de seus grupos e, segundo é a pouca representatividade dos setores populares que não tem recursos suficientes para entrar no quadro institucional, a não ser através de organizações burocráticas como o sindicato e/ou grupos de "defesa de minorias".


O voto simplesmente é "uma armadilha dos tolos" como bem definiu o filósofo francês Jean Paul Sartre, pois ele se fundamenta na falta de capacidade e ignorância dos setores populares de se autogovernarem, sem a necessidade de intermediários, como é caso dos políticos profissionais, que na maioria das vezes atendem mais os interesses minoritários da classe dominante ou da burocracia partidária e/ou sindical.


A única opção para sair do marasmo eleitoral é a ação livre direta dos trabalhadores assalariados em organizações horizontais, e recusar a farsa da "democracia representativa" que não os representa para nada. O eleitor é transformado em mero votante idiota que delegará poder tanto a um espertinho ou a um imbecil e em raros casos de pessoas "bem intencionadas" que acabam se convertendo em um escravo do parlamento. Não existe soluções mágicas para superar isso, e nem adianta rezar a procura de "salvadores da pátria", que na maioria das vezes ficaram marcados na história como os maiores tiranos. Não adianta implorar por ditadura seja ela fascista ou bolchevista, que são por sua essência auto-destrutiva.
Qualquer tipo de reforma na assembléia parlamentar que busque melhorar esse quadro, geralmente é insuficiente e ineficaz pelo simples fato de que a própria estutura interna dentro dos partidos são antidemocráticas onde prevalecem a vontade das lideranças partidárias.

A democracia representativa é um fiasco e antidemocrática por sua natureza. As pessoas poderão contra-argumentar, afirmando que na Europa e nos Estados Unidos esse modelo funciona. Será mesmo?
Poucos se lembram que a riqueza dos países desenvolvidos são frutos de guerras, como as duas guerras mundiais, e de tentativas revolucionárias empreendidas pelos trabalhadores para superar o capitalismo. As classes dominantes tiveram que ceder os anéis para não perderem o dedo.

Para ilustrar esse quadro, atualmente, em torno de 30 a 50% dos cidadãos dos países desenvolvidos, não comparecem as urnas, já que o voto não é obrigatório, e votam apenas em situações bastante especiais, como foi o caso das eleições francesas em 2002, onde o fascista Jean Marie Le Pen, chegou no segundo turno e, que para afastar a hipótese dele chegar ao poder, a população compareceu em massa para votar no candidato conservador Jacque Chirac.


No Brasil, em razão das grandes desigualdades sociais, há uma tola ideia de que apenas por eleições esse quadro poderá ser mudado. Argumenta-se que o Brasil tem pouca experiência democrática e que é necessário anos e anos para colher os frutos de uma "democracia sólida". Além disso, insiste na tese da sociedade civil como uma forma se contrapor ao Estado para ser efetivada a democracia participativa, o que é bastante discutível, pois em geral, a sociedade civil aparece apenas em momentos de crise institucional, mas aos poucos perdem a sua força, em razão da atuação dos orgãos burocráticos que controlam as ações mais autônomas e autênticas, contribuindo dessa forma para despolitizar os cidadãos.


Como já afirmava o filosofo grego Aristóteles, o homem é um animal político, e nos dias de hoje, é governado por animais. A superação desse quadro, só será possível quando os homens compreenderem que são políticos, se não a política ficará nas mãos de um "grupo de iluminados" e uma ciência oculta que a maioria não compreende.