sábado, 23 de outubro de 2010

Aula de democracia


Eis uma verdadeira aula sobre o que é democracia com o professor J. Vasconcelos. Ele faz uma crítica persistente e corajosa sobre a democracia representativa.


Parte 1




Parte 2




Há aqueles que afirmam que democracia pura e de fato seja uma ilusão. Pois diante disso cabe a seguinte pergunta: O que é mais utópico acreditar na democracia real ou a democracia representativa?

sábado, 16 de outubro de 2010

Vaffanculo democrazia rappresentativa!


Para aqueles que têm a ilusão de que a democracia representativa seja o sistema político mais adequado da história da humanidade. Vejam esse vídeo:




Beppe Grillo é um famoso humorista italiano que há anos realiza criticas viscerais em relação ao sistema político italiano e também aos políticos profissionais. Nesse evento, o Vaffanculo day (dia de tomar no cu) ele convida o jornalista e escritor Massimo Fini, um dos maiores críticos da democracia representativa e que nesse vídeo ilustra perfeitamente a situação política dos dias de hoje.

Apresentação de Beppe Grillo: Gostaria de dar a palavra a este descarado que sempre foi assim, que sempre foi do contra. Ele escreveu livros extraordinários. É essa pessoa aqui Massimo Fini. Obrigado Massimo.

Eu estou de acordo como é obvio sobre os três pontos fundados no Vaffanculo day (dia de tomar no cu), ou seja, o fato de que não sejam submetidos ao parlamento, que não estejam os mesmos parlamentares por dois mandatos e que possa voltar a votar e a escolher os nossos candidatos. Acredito que isso seja um modo para mostrar apresentável alguma coisa que de apresentável não existe e que é indecente, que é uma fraude. Isso se chama de democracia representativa. Eu tenho definido e defino a democracia representativa, em uma maneira como todo o respeito, uma forma de enfiar no rabo as pessoas com seu consenso, especialmente para as pessoas mais humildes. Além do mais, nunca se entendeu bem o que seja de fato a democracia representativa. Norberto Bobbio, que dedicou toda a sua laboriosa vida a esse tema, não conseguiu solucionar esse problema. Indica como essenciais a democracia representativa uma vez nove elementos, uma vez seis, uma vez três. No entanto, levamos em consideração dois elementos que são considerados da vulgata como essenciais à democracia, isto é, o voto é igual – one man one vote – como dizem os anglo-saxões, o voto é livre. Pois bem, o voto não é igual: o consenso é falsificado. O voto não é igual pela razão definida que ilustrou aquela que é chamada a escola elitista italiana dos primeiros anos do século XX, Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels. Diz Mosca: “Cem que agem sempre em concordância e de acordo prevalecerão sobre mil que agem livremente”. O consenso não é livre porque amplamente condicionado pelos meios de comunicação que estão nas mãos das mesmas pessoas e que, não por acaso, se chamam de instrumento de consenso.

Na realidade a democracia representativa é um sistema de oligarquias, de minorias organizadas, de aristocracias disfarçadas que esmagam o cidadão singular, o homem livre que não quer ser humilhado a ser enfeudado nessas oligarquias, os partidos e outros lobby econômicos e criminosos frequentemente ligados entre si. A democracia representativa seria aquilo que o pensamento liberal queria valorizar – méritos, capacidades, potencialidades – e o cidadão ideal se torna a vítima designada.

Sem fazer muita teoria, vemos que todos nós não valemos nada, que a nossa voz não é escutada. Alguns anos atrás, na Praça San Giovanni, reuniram-se mais de um milhão de pessoas sobre um tema como as leis ad personaum, um tema dificílimo de fato, pois é mais fácil reunir as pessoas sobre temas econômicos. Pois bem: não houve nenhuma resposta nem a direita e nem a esquerda. Aliás, a esquerda afirmou constantemente: “não me confundirá como um girontodino”* como se manifestar nas praças não fosse o primo direito político do cidadão que vem antes do voto.

O problema é da democracia mundial, ocidental mas o sistema italiano, e Grillo ilustrou muito bem, existe degenerações intoleráveis. Dizia Hans Kelsen, que não é um marxista e não é um extremista talibã, que a democracia representativa é um sistema de ficção e afirmava que a função da democracia representativa é de dar a sensação de liberdade e, perguntava até quando essa extraordinária cisão entre realidade e ideologia possa continuar. É a pergunta que eu tenho feito há muito tempo. Naturalmente as democracias surgidas através do banho de sangue puseram uma tampa conceitual, uma espécie de norma de fechamento, afirmando que a democracia é o fim e o fim da história, pela razão que nós seremos condenados a morrer democratas. Eu acredito que, como qualquer sistema que não respeita nenhum dos seus pressupostos, cedo ou tarde cairá. Não será um evento como esse organizado maravilhosamente por Beppe, não será certamente a geração de Grillo ou da minha. Mas cedo ou tarde essa trapaça desse gênero deve ser eliminada. Obrigado.

Massimo Fini

Tradução: Jayro de Sousa Costa

* girontondino = movimento de cidadãos italianos surgido nas grandes cidades italianas em 2002 em defesa da democracia. O movimento se caracteriza pela crítica ao governo de Silvio Berlusconi e também aos partidos de esquerda, estes considerados por fazer uma oposição branda ao magnata dos meios de comunicação.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Todos Juntos


Essa canção é um dos temas mais importantes na história da música chilena, composta pelo grupo de música folclórica Los Jaivas, um dos mais importantes do cancioneiro latino-americano. A música dedico não apenas ao drama dos mineiros chilenos, mas a todos aqueles que buscam uma sociedade mais humana. A metafora da caverna de Platão nunca ficou tão evidente como foi esse caso no Chile e que comprova todas as falsas teses de que o ser humano é um ser auto-destrutivo. O ser humano mostrou mais uma que o espírito de solidariedade ainda não morreu, apesar de vivermos em uma era onde o espírito indivualista nos fazer acreditar que o homem é o lobo do homem.
Deixemos as discussões bobas de lado e todos juntos vamos viver!




Todos Juntos

Los Jaivas

Hace mucho tiempo que yo vivo preguntándome
Para qué la tierra es tan redonda y una sola no más
Si vivimos todos separados
Para qué son el cielo y el mar
Para qué es el sol que nos alumbra
Si no nos queremos ni mirar

Tantas penas que nos van llevando a todos al final
Cuantas noches, cada noche, de ternura tendremos que dar
Para qué vivir tan separados
Si la tierra nos quiere juntar
Si este mundo es uno y para todos
Todos juntos vamos a vivir

Tradução

Faz muito tempo que eu vivo me perguntando
Para que a terra é tão redonda e uma só não mais
Se vivemos todos separados
Para que são o céu e o mar
Para que é o sol que nos ilumina
Se não queremos nem olhar

Tantas penas que nos vão levando a todos ao final
Quantas noites, cada noite, de ternuna tendemos que dar
Para que viver tão separados
Se a terra nos quer juntar
Se este mundo é um e para todos
Todos juntos vamos viver

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A demissão de Maria Rita Kehl e o papel da mídia



crédito: Terra Magazine

A psicanalista Maria Rita Kehl foi mais uma vítima por parte dos grandes meios de comunicação, ligados ao candidato a presidência da república José Serra, por manifestar sua opinião através do artigo intitulado dois pesos duas medidas no jornal Estado de S. Paulo em que ela critica a opinião pública por desqualificar o voto dos setores mais pobres em apoiar o governo Lula, devido aos programas sociais que tiraram milhões destes da situação de miseralibilidade.

O que aconteceu com ela? Foi demitida sumariamente! E ao que tudo indica por pressão de José Serra, que já operou outras demissões e afastamentos de jornalista na TV Cultura, como foram os casos Gabriel Priolli, Herodoto Barbeiro e outros jornalistas que realizarem várias matérias críticas sobre a gestão tucana no Estado de S. Paulo.


Quem tem acompanhado ultimamente sabe que a TV Cultura está em um caos generalizado, em razão do desmonte público realizado pelas sucessivas admistrações tucanas, que operam uma verdadeira privatização no canal. Os funcionários sofrem com essa situação através da precarização do trabalho, dos reajustes salariais, assédio moral e outras modalidades que todos os trabalhadores assalariados conhecem.


Os meios de comunicacão de modo geral, estão sempre a serviço do capital e dos políticos profissionais que mais se identificam em defesa do sistema capitalista. É claro que o governo Lula não é nenhum governo anticapitalista (é óbvio!) e nem mesmo chega a realizar uma política social-democrata, mas o fato de um ex-operário ter saído de uma posição de miséria e que atualmente ocupa espaços na "democracia representativa" cause arrepios a classe dominante e setores fascitóides de classe média como uma "ameaça ao
establishment" .

Na democracia representativa, os pobres de modo geral, geralmente apoiam candidatos que realizam programas assistencialistas que ofereçam algum tipo de vantagem e é essa a razão da grande popularidade de Lula. Pode criticar o assistencialismo, mas diante de uma sociedade que ainda carrega a marca da escravidão, qualquer tipo de apoio melhora as condições de vida da população. De nada adianta criticar o governo por denúncias de corrupção e pregar "a ética na política", a essência da democracia representativa é a corrupção que envolvem todos os partidos políticos. Estes por sua vez, são orgãos burocráticos que apresentam discursos diferentes, mas na prática operam igualmente com os seus pares. A ética na política só poderá ser concretizada quando a democracia representativa deixar de existir.


Lula sofre oposição por parte dos grandes meios de comunicação, por uma simples razão: a mídia perdeu o lugar de ser a porta-voz que mediava os interesses da classe dominante como se fossem os interesses de todos. Hoje esse espaço está sendo ocupado pela burocracia sindical, dos partidos políticos de inspiração social-democrata e outras organizações burocráticas que "representam" interesses de grupos minoritários como os movimentos feminista, negro, de homossexuais , e outros. Maria Rita Kehl apenas expressou a opinião da camada ascendente no governo Lula, e por isso foi punida, pois o jornal está favorável e a serviço da candidatura de José Serra.


Todavia, é necessário lembrar que, apesar de Lula e os seus apoiadores, criticarem a grande imprensa, pouco se fala que foi durante o seu governo, que se mais reprimiu rádios e canais de Tv comunitários. Na Venezuela, o governo Chavez ,usa e abusa desses instrumentos para contrapor a mídia privada para garantir o seu poder. As rádios e TV comunitárias tem uma autonomia bastante limitada, pois caso eles sejam utilizados pelo povo e para o povo e que ameaçam o poder, seja ele dos setores privados e também do próprio estado, o governo simplesmente corta o sinal e/ou oferece certas "vantagens", cooptando os ativistas mais radicais para poderem continuar com as suas transmissões.


Os meios de comunicação só poderão ser democraticos se estiverem sob o controle público. Não poderá ter nem interferência privada e nem estatal. O controle deverá ser de todos sem a necessidade de orgãos burocráticos que limitam a participação popular. Caso contrário, a liberdade de expressão será apenas usada e apropriada por esses mesmos grupos que em nome da "liberdade de imprensa" utilizam-se de mecanismos manipulatórios para manter o seu status quo. A liberdade só existe entre iguais.




terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Cara das eleições



crédito: movaut


"Ó Deus que mundo é esse, onde os loucos governam os cegos (Shakespeare)

As eleições no Brasil estão de mal a pior, obrigado. É cada vez nítido que a democracia representativa, não apenas no Brasil como no mundo em modo geral, passa por uma crise de identidade que poderá cedo ou tarde comprometer o seu futuro. A crise da representatividade é o reflexo da falta de legimidade dos políticos profissionais e a falta de perspectiva dos eleitores de transformar a sua realidade.

Os partidos políticos são instituições burocráticas que visam apenas a conquista do poder de estado e, são antidemocráticos em sua própria estrutura. Então cabe a seguinte pergunta: Por que votar? O voto obrigatório é democrático? Qual a razão da existência dos partidos políticos?


Infelizmente, a ideologia que sustenta a democracia burguesa afirma que o parlamento é um local de lutas e debates e que através do voto, o eleitor pode fazer a diferença, será mesmo?
Essa foi a maior mentira criada para fortalecer a manutenção do sistema capitalista.

Primeiro, por que as grandes mudanças que existiram na sociedade no século XX, não foi por meio da atuação do parlamento, e sim das lutas praticados pelos setores marginalizados da sociedade como os operários, as mulheres, os negros que aos poucos foram cooptados e corrompidos para atuar no sistema parlamentar. Inicialmente, esses setores tiveram beneficios quando foram incorporados no sistema, no entanto, acabaram se transformando em orgãos burocráticos e desta forma, afastaram de qualquer perspectiva de transformação que antes caracterizavam esses movimentos. A burocratização contribuiu para a despolitização e imobilização da sociedade.


Segundo, o parlamento é local de poder de grupos minoritários onde a maioria não tem voz e nem vez, a não ser por meio do voto. Os partidos de "inspiração socialista" ainda tentam aumentar a participação popular criando instrumentos que a principio serviram para contrapor a democracia burguesa, mas que não passam de mecanismos para a sustentação do poder desses partidos. No momento em que os trabalhadores buscam alternativas autonômas, o "representantes populares" tentam de todas as formas frear esse tipo de atuação para não perderem a sua influência nos movimentos sociais.


Terceiro, o parlamento é antidemocrático por essência:

1) Para atuar no parlamento necessita de dinheiro e /ou de fama,
2) Todos os partidos políticos são altamente burocráticos e os setores populares para poder se representar necessitam aos orgãos que aparentemente os defendem como os sindicatos,
3) Há um forte lobby dos setores economicamente privilegiados que impedem a participação popular,
4) O sistema favorece a corrupção, que é a regra e não a exceção,
5) os representantes não representam os representados, representam os seus grupos que vão desde o empresariado até a burocracia sindical.

A única diferença de uma ditadura e uma democracia em uma sociedade capitalista é que a primeira a política se restringe apenas a classe dominante e, a segunda é restrita para as massas. Ou seja, a ditadura em uma sociedade capitalista surge quando há uma crise institucional que ameaça o poder da burguesia. A democracia representativa serve para atender algumas demandas de "grupos oprimidos" que são facilmente cooptados e corrompidos para a atuar no sistema parlamentar e, desta forma serve para impedir o desenvolvimento de ações autônomas por parte da classe trabalhadora.


No Brasil, as eleições estão polarizadas em dois partidos:

O PT, um partido social-democrata que realiza um governo neoliberal de esquerda, isto é, aumenta a participação do estado na economia, mas não para atacar as causas nefastas do neoliberalismo, mas atacar apenas diminuir os seus efeitos. De fato, existe uma forte "parceria" público-privado, que nada mais é que uma privatização camuflada. O lulismo se caracteriza pelos programas sociais que impulsionaram o mercado interno, o aumento do salário real do trabalhador em especial dos setores públicos por meio de uma política macroeconômica estremamente conservadora.

O PSDB, só tem o nome de social-democrata, é um partido fortemente ligado ao neoliberalismo que se diferença do lulismo apenas na forma de condução. Defende a privatização mais acelerada das empresas estatais, é a favoravel a diminuição da presença do estado da economia assim como a máquina pública e "o aparelhamento do estado", isto é, congelamento de salários dos servidores públicos, menos investimentos em saúde, educação e outros serviços públicos.


Diante dessa quadro, o que pode se esperar é que independentemente do governo eleito não haverá mudanças. Dilma representa a continuação do governo Lula, mas ainda não se sabe o que se esperar dela. É bem provável, que tentará manter a mesma forma de atuação do governo Lula, mas será que terá a mesma habilidade do antecessor? Será que a economia estará segura as crises econômicas? A interferência do estado na economia será suficiente para que elas sejam evitadas? Será que a parceria do setor público e privado na economia terá força?


Serra por outro lado, mesmo se for eleito, terá que manter o assistencialismo que impulsionou o mercado interno caso não queira ter problemas, mas será que ele vai seguir isso a risca? Será que ele terá forças suficientes para elaborar o programa de seu partido? Será que ele vai tentar reeditar o período FHC, já que na atual conjuntura, as políticas neoliberais mais "autênticas" representariam um retrocesso e que pode impulsionar uma grave crise econômica? E como será a sua relação com os servidores públicos?


E a candidata Marina Silva representa mudanças? É claro que não. Tão falso como o discurso ecológico "políticamente correto" e ilusório "como capitalismo ecológico" onde ONGs aventureiras que a apoiam estão de olho para ganhar dinheiro na Amazônia, na qual lutam-se pela criação de parques ecológicos para "diminuir" a devastação e "preservar" a Amazonas, ou seja, nada mais que operar uma privatização da floresta amazonas, adotando um discurso semelhante ao do ex-vice presidente dos Estados Unidos, Albert Al Gore. Todavia, tanto o PT quanto o PSDB apresentam o mesmo programa em relação a Amazônia. Como diria Raul Seixas, a Amazônia é o jardim do quintal dos gringos.


Essa é a cara das eleições e nem duvide que a qualquer momento o PT e o PSDB inimigos hoje possam ser aliados amanhã, ou mesmo não, afinal políticos são todos iguais só que uns são mais iguais que os outros.