Apresentação de Beppe Grillo: Gostaria de dar a palavra a este descarado que sempre foi assim, que sempre foi do contra. Ele escreveu livros extraordinários. É essa pessoa aqui Massimo Fini. Obrigado Massimo.
Eu estou de acordo como é obvio sobre os três pontos fundados no Vaffanculo day (dia de tomar no cu), ou seja, o fato de que não sejam submetidos ao parlamento, que não estejam os mesmos parlamentares por dois mandatos e que possa voltar a votar e a escolher os nossos candidatos. Acredito que isso seja um modo para mostrar apresentável alguma coisa que de apresentável não existe e que é indecente, que é uma fraude. Isso se chama de democracia representativa. Eu tenho definido e defino a democracia representativa, em uma maneira como todo o respeito, uma forma de enfiar no rabo as pessoas com seu consenso, especialmente para as pessoas mais humildes. Além do mais, nunca se entendeu bem o que seja de fato a democracia representativa. Norberto Bobbio, que dedicou toda a sua laboriosa vida a esse tema, não conseguiu solucionar esse problema. Indica como essenciais a democracia representativa uma vez nove elementos, uma vez seis, uma vez três. No entanto, levamos em consideração dois elementos que são considerados da vulgata como essenciais à democracia, isto é, o voto é igual – one man one vote – como dizem os anglo-saxões, o voto é livre. Pois bem, o voto não é igual: o consenso é falsificado. O voto não é igual pela razão definida que ilustrou aquela que é chamada a escola elitista italiana dos primeiros anos do século XX, Gaetano Mosca, Vilfredo Pareto e Robert Michels. Diz Mosca: “Cem que agem sempre em concordância e de acordo prevalecerão sobre mil que agem livremente”. O consenso não é livre porque amplamente condicionado pelos meios de comunicação que estão nas mãos das mesmas pessoas e que, não por acaso, se chamam de instrumento de consenso.
Na realidade a democracia representativa é um sistema de oligarquias, de minorias organizadas, de aristocracias disfarçadas que esmagam o cidadão singular, o homem livre que não quer ser humilhado a ser enfeudado nessas oligarquias, os partidos e outros lobby econômicos e criminosos frequentemente ligados entre si. A democracia representativa seria aquilo que o pensamento liberal queria valorizar – méritos, capacidades, potencialidades – e o cidadão ideal se torna a vítima designada.
Sem fazer muita teoria, vemos que todos nós não valemos nada, que a nossa voz não é escutada. Alguns anos atrás, na Praça San Giovanni, reuniram-se mais de um milhão de pessoas sobre um tema como as leis ad personaum, um tema dificílimo de fato, pois é mais fácil reunir as pessoas sobre temas econômicos. Pois bem: não houve nenhuma resposta nem a direita e nem a esquerda. Aliás, a esquerda afirmou constantemente: “não me confundirá como um girontodino”* como se manifestar nas praças não fosse o primo direito político do cidadão que vem antes do voto.
O problema é da democracia mundial, ocidental mas o sistema italiano, e Grillo ilustrou muito bem, existe degenerações intoleráveis. Dizia Hans Kelsen, que não é um marxista e não é um extremista talibã, que a democracia representativa é um sistema de ficção e afirmava que a função da democracia representativa é de dar a sensação de liberdade e, perguntava até quando essa extraordinária cisão entre realidade e ideologia possa continuar. É a pergunta que eu tenho feito há muito tempo. Naturalmente as democracias surgidas através do banho de sangue puseram uma tampa conceitual, uma espécie de norma de fechamento, afirmando que a democracia é o fim e o fim da história, pela razão que nós seremos condenados a morrer democratas. Eu acredito que, como qualquer sistema que não respeita nenhum dos seus pressupostos, cedo ou tarde cairá. Não será um evento como esse organizado maravilhosamente por Beppe, não será certamente a geração de Grillo ou da minha. Mas cedo ou tarde essa trapaça desse gênero deve ser eliminada. Obrigado.
Massimo Fini
Tradução: Jayro de Sousa Costa
* girontondino = movimento de cidadãos italianos surgido nas grandes cidades italianas em 2002 em defesa da democracia. O movimento se caracteriza pela crítica ao governo de Silvio Berlusconi e também aos partidos de esquerda, estes considerados por fazer uma oposição branda ao magnata dos meios de comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário