sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A democracia representativa tem futuro?


Eleições, eleições tempo de ilusões, nada melhor para iniciar esse texto sobre um tema que é bastante discutido, mas que poucos conseguem enxergar o óbvio: a falácia da democracia representativa. A sua ineficiência é proposital a ideologia da representatividade, em que sustenta a tese da necessidade dos cidadãos elegerem individuos para cargos admistrativos que supostamente representariam em defesa dos seus interesses.

A democracia representativa surgiu durante a Revolução Francesa em 1789, a partir do momento, em que a burguesia para se defender da desobediência popular que recusou a pagar impostos, resolveu criar a Assembléia Constituinte, para defender os seus privilégios, fazendo-se como representante geral "do povo". Na Assembléia criou dois grupos: no lado direito estavam os representantes dos setores mais ricos e mais conservadores e do lado esquerdo estavam os representantes "mais populares" como os pequenos comerciantes, a pequena burguesia, os artesãos, os camponeses.


Daí que deu origem ao termo direita e esquerda, ainda hoje usados, para designar que, a primeira representa os interesses da elite e, a segunda representa os anseios populares. Há também o grupo do centro, que nada mais é do que uma direita disfarçada, que costura alianças de todas as formas, sendo estes classificados por cientistas políticos, como grupos fisiológicos, ou seja, mudam constantemente de posição para ter maior representatividade e que de certa forma "contaminam" a direita e sobretudo a esquerda. Essa última para ter estabilidade no governo necessita desse apoio e quanto mais ela cresce mais se aproxima do centro e, desta forma, acaba se convertendo ao grupo da ordem, afastando qualquer "probabilidade de governo popular".


O desenvolvimento do capitalismo permitiu a abertura às organizações da classe trabalhadora no quadro institucional, que antes era reservada apenas a classe dominante. No entanto, a inserção das organizações populares teve um efeito paradoxo. Se por um lado garantiu mais força para o atendimento de seus interesses, por outro lado desenvolveu-se uma burocrácia que passou a auxiliar aos interesses da classe dominante, a medida que, estas se transformaram em instrumentos de manutenção da ordem capitalista, passando a defender interesses contraditórios como "a harmonização entre o capital e o trabalho" como é o caso dos sindicatos e os partidos políticos.

Em todas as partes do mundo, a democracia representativa sofre críticas por duas razões: primeiro porque a maioria dos representantes pertencem a classe social privilegiada e representam mais os interesses econômicos de seus grupos e, segundo é a pouca representatividade dos setores populares que não tem recursos suficientes para entrar no quadro institucional, a não ser através de organizações burocráticas como o sindicato e/ou grupos de "defesa de minorias".


O voto simplesmente é "uma armadilha dos tolos" como bem definiu o filósofo francês Jean Paul Sartre, pois ele se fundamenta na falta de capacidade e ignorância dos setores populares de se autogovernarem, sem a necessidade de intermediários, como é caso dos políticos profissionais, que na maioria das vezes atendem mais os interesses minoritários da classe dominante ou da burocracia partidária e/ou sindical.


A única opção para sair do marasmo eleitoral é a ação livre direta dos trabalhadores assalariados em organizações horizontais, e recusar a farsa da "democracia representativa" que não os representa para nada. O eleitor é transformado em mero votante idiota que delegará poder tanto a um espertinho ou a um imbecil e em raros casos de pessoas "bem intencionadas" que acabam se convertendo em um escravo do parlamento. Não existe soluções mágicas para superar isso, e nem adianta rezar a procura de "salvadores da pátria", que na maioria das vezes ficaram marcados na história como os maiores tiranos. Não adianta implorar por ditadura seja ela fascista ou bolchevista, que são por sua essência auto-destrutiva.
Qualquer tipo de reforma na assembléia parlamentar que busque melhorar esse quadro, geralmente é insuficiente e ineficaz pelo simples fato de que a própria estutura interna dentro dos partidos são antidemocráticas onde prevalecem a vontade das lideranças partidárias.

A democracia representativa é um fiasco e antidemocrática por sua natureza. As pessoas poderão contra-argumentar, afirmando que na Europa e nos Estados Unidos esse modelo funciona. Será mesmo?
Poucos se lembram que a riqueza dos países desenvolvidos são frutos de guerras, como as duas guerras mundiais, e de tentativas revolucionárias empreendidas pelos trabalhadores para superar o capitalismo. As classes dominantes tiveram que ceder os anéis para não perderem o dedo.

Para ilustrar esse quadro, atualmente, em torno de 30 a 50% dos cidadãos dos países desenvolvidos, não comparecem as urnas, já que o voto não é obrigatório, e votam apenas em situações bastante especiais, como foi o caso das eleições francesas em 2002, onde o fascista Jean Marie Le Pen, chegou no segundo turno e, que para afastar a hipótese dele chegar ao poder, a população compareceu em massa para votar no candidato conservador Jacque Chirac.


No Brasil, em razão das grandes desigualdades sociais, há uma tola ideia de que apenas por eleições esse quadro poderá ser mudado. Argumenta-se que o Brasil tem pouca experiência democrática e que é necessário anos e anos para colher os frutos de uma "democracia sólida". Além disso, insiste na tese da sociedade civil como uma forma se contrapor ao Estado para ser efetivada a democracia participativa, o que é bastante discutível, pois em geral, a sociedade civil aparece apenas em momentos de crise institucional, mas aos poucos perdem a sua força, em razão da atuação dos orgãos burocráticos que controlam as ações mais autônomas e autênticas, contribuindo dessa forma para despolitizar os cidadãos.


Como já afirmava o filosofo grego Aristóteles, o homem é um animal político, e nos dias de hoje, é governado por animais. A superação desse quadro, só será possível quando os homens compreenderem que são políticos, se não a política ficará nas mãos de um "grupo de iluminados" e uma ciência oculta que a maioria não compreende.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Europa em chamas


A crise econômica na Grécia e as reformas previdênciarias que ocorrem praticamente em todo o continente demonstram que a Europa em qualquer momento poderá entrar em chamas.

A decadência do sistema representativo, a constante evasão dos trabalhadores nos sindicatos, e a falta de espectativa dos cidadãos em relação ao futuro comprovam que a crise do sistema capitalista está longe do fim.

A intervenção estatal em alguns setores da economia serve apenas para proteger aos interesses privados e não a população que estará sujeita a mais corte de gastos do estado.

A crise econômica poderá ter efeitos tão fortes que nem mesmo as eventuais privatizações e/ou as estatizações permitirão a normalidade do sistema capitalista. No entanto, não se deve iludir que as crises econômicas levaram ao fim do capitalismo, muito pelo contrário, o capitalismo em momentos de crise geralmente recorre a fórmula mágica: aumentar a demanda no setor bélico que poderá conduzir as novas guerras e que estas não serão apenas as velhas guerras tradicionais contra Estados, mas a outras modalidades de guerras que envolveram toda a sociedade.

O futuro dependerá muito de como será a atuação dos trabalhadores em suas lutas cotidianas contra o capital e não há nenhum remédio e nenhuma bula para ser seguido. A melhor recomendação é evitar a criação de orgãos burocráticos e/ou seguí-los como os partidos políticos e sindicatos que historicamente mais atrapalharam do que desenvolveram as ações autonômas dos trabalhadores. Vale o velho lema de Marx: a emancipação dos trabalhadores será obra deles mesmos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Até tu, Fidel?


Fidel pseudomarxista

crédito idiotices.net


Quem diria, que até o ex-líder cubano Fidel Castro, constatou o óbvio. O sistema cubano já não serve mais. O estatismo de inspiração bolchevique comprovou a maior mentira inventada no século XX, a existência do socialismo.

Embora a Revolução Cubana tenha despertado muitos sonhos da geração da juventude latino-americana dos anos 60 e 70 na luta contra o "imperialismo norte-americano", em razão das reformas sociais, como a reforma agrária e urbana, a expansão do sistema educacional e de saúde, empreendidos pelo governo castrista e que rendeu popularidade ao líder e admiração em "setores da intelegentsia de esquerda", especialmente a latino-americana, esconde por um lado que em Cuba desde a tomada de poder em 1959, existe um verdadeiro capitalismo estatal onde a burguesia é o próprio estado.


Por qual razão Fidel Castro tem grande admiração, mesmo sabendo dos seus métodos autoritários?


Em primeiro lugar, desde a revolução russa de 1917, em que o partido bolchevique liderado por Lênin, deu um golpe de estado para assumir o poder, e instaurar o capitalismo de estado, os partidos comunistas de inspiração bolchevique, começaram a empreender uma luta dentro do parlamento contra o imperialismo estadunidense e defender propostas nacionalistas em cada país para chegar o "socialismo". A luta de classes se transformou numa luta contra o império estadunidense. Cuba foi o primeiro país latino-americano a conseguir tal êxito, embora o partido comunista nem "existisse" na ilha e, Fidel tampouco poderia ser denominado de "marxista".


Em segundo lugar, os programas sociais (reforma agrária, sistema educacional e de saúde gratuídos) iludiram a maior parte da juventude esquerdista nos anos 60, que aquele seria o caminho ideal para o projeto de libertação nacional.


Em terceiro lugar, a radicalização dos jovens e a luta de classes nos países latinos-americanos deram origem as ditaduras militares patrocinadas pelos Estados Unidos, que contaram com o apoio dos setores mais conservadores da sociedade. O episódio mais emblemático foi o golpe de estado no Chile desferido por Augusto Pinochet, que interrompeu uma série de reformas no governo de Salvador Allende que levaria ao país ao "socialismo". Curiosamente, o golpe de estado no Chile contou com o apoio "socialista" da China de Mao-Tse-Dung e da União Soviética, de Leonid Brejnev. Fidel por um lado, ficou isolado para dar apoio a Allende que foi esmagado pelas balas fascistas de Pinochet.


Nessa época, vivia-se o terror da guerra fria onde o mundo era divido em dois blocos: pró-Estados Unidos e pró-soviético. Duas potências que tinham dois modelos de desenvolvimento capitalista diferenciados. A estadunidense de capitalismo privado-misto e, a russa de capitalismo estatal que ficou conhecida falsamente como socialista.


Até o fim da guerra fria, Cuba parecia um "exemplo" a ser seguido pelos países latino-americanos em sua luta pela "libertação nacional" contra o imperialismo norte-americano, mas poucos ignoravam a fortíssima influência soviética na ilha, desde que o "libertador" Fidel Castro para provocar os Estados Unidos, em resposta aos sucessivos bombardeios na ilha, praticados pelos mercenários cubanos de Batista com ajuda dos yankes, concedeu aos russos que instalassem mísseis em seu território a 200 km de Miami. A crise dos mísseis quase resultou na terceira guerra mundial.


Fidel Castro e o primeiro ministro soviético Nikita Krushchev

A forte influência soviética marcou definitavamente a economia cubana e o poder de Fidel Castro, sem a qual não teria existido. O curioso é que sete anos antes do inicio do processo revolucionário em Cuba, o movimento de 26 de julho no famoso assalto da Moneda, Fidel era apenas um desconhecido pela maioria da população e, dentro do movimento havia lideranças como mais prestígio entre as massas como Frank País e René Ramos Latour que tinham grandes diferenças com Fidel Castro, mas que se transformaram em "martíres da revolução". No entanto, a histografia oficial mostra que o movimento 26 de julho era apenas em torno da liderança de Fidel Castro. Deve ser destacado, que os Estados Unidos inicialmente deram apoio ao movimento, sem saber que esse apoio se voltaria contra ele.


Após a consolidação do poder de Fidel Castro, diversos personagens ficaram marginalizados por não se submeterem a sua liderança, como o jornalista Carlos Franqui, que antes mesmo do triunfo da revolução, já notara o perfil autoritário de Castro. Franqui morto recentemente, em seu livro Revolução Cubana Mitos e Realidades, afirmou que a maioria dos intelectuais que defendem o regime cubano, não passam de bobos da corte seduzidos pelo poder, como o escritor Gabriel García Marques, famoso pela amizade com o líder cubano. Segundo Franqui, a maioria do movimento lutava contra a subordinação americana, mas também lutava contra o subordinação soviética. Comunista convicto, Franqui deixou a ilha, quando o governo cubano apoiou a invasão da União Soviética a Tchecosláquia, em 1968.


Livro de Carlos Franqui
Cuba, la revolución
¿mito o realidad?

Há outros casos que mostram como o governo cubano era tão subordinado ao poder soviético. Em 1976, a Argentina iniciava a mais feroz ditadura de sua história e curiosamente o Partido Comunista local dera apoio ao golpe e o partido serviu de ponte para Cuba, que por sua vez, serviu de escala para a União Soviética que estava interessada em aumentar as relações comerciais com o país platino. Entre 1976-1982, Argentina e União Soviética mantiveram relações comerciais bilaterais mediadas por Cuba e durante a Guerra das Malvinas de 1982, a junta militar argentina, teve que recorrer ao líder cubano, para receber apoio na louca aventura bélica contra a Inglaterra, que acabou consolidando o triunfo britânico e o fortalecimento de Margareth Tchatcher no cenário internacional.


Outro mito que se esconde é em relação ao embargo comercial imposto aos Estados Unidos. Na verdade o que há, é um lobby de proprietários cubanos instalados em Miami, muito deles pertencentes as antigas elites, que obriga o governo estadunidense a realizar o embargo. No entanto, o embargo apenas solidificou a figura de Fidel na ilha. Mesmo porque é muita tolice acreditar que um grupo enclausurado no poder largará facilmente depois de sua suspensão. Os problemas de Cuba são mais internos do que externos, pois não pode ser ingênuos ao ponto de acreditar que 13 % de seus habitantes que vivam fora do país, a maioria delas sejam conspiradoras "imperialistas". Além disso, o embargo econômico serve para os dois lados, pois a suspensão do embargo provocaria uma revolta da população e ameaçaria qualquer forma de governo seja ele por eleições parlamentares ou por partido único.


Ou seja, Cuba optou pelo caminho do fracasso que é o estatismo. Não se sabe até quando Cuba poderá sustentar um governo autocrático que se utiliza de "alguns mecanismos democráticos" (em Cuba há eleições locais) para se consolidar no poder e todas as alternativas são péssimas. O neoliberalismo pode desenvolver alguns setores, mas produzir misérias ou optar pelo capitalismo chinês que é talvez o mais selvático do mundo. É só acompanhar as greves que pipocam a cada dia onde os trabalhadores são praticamente escravizados, e que no futuro poderá representar uma ameaça a China. Cuba precisa de outra revolução sim, mas desta vez, sendo que os próprios trabalhadores sejam os protagonistas e parar de venerar falsos ídolos, pois como dizia Bakunin: a fé absoluta que um povo credita em um homem transforma em um escravo estúpido.


Fidel apenas constata o que muitos marxistas autênticos anti-partidários (que Lênin qualificava de esquerdistas infantis) já denunciavam: o Estatismo não passa de um capitalismo de Estado. O Estado socialista não passa de uma invenção criada pela burocracia partidária social-democrata e radicalizada através dos bolcheviques. Engels já alertara antes da II Internacional, que deu origem aos partidos operários, de não confundir socialismo com estatização, pois essa confusão pode gerar nada mais em uma criação de um "capitalismo coletivo real".


O fim de Estado de partido único morreu e o século XX apenas comprovou que todas tentativas de mudanças após a tomada de poder (de cima para baixo) fracassaram e todas as formas de governo também. Tolos ou ingênuos são aqueles que acreditam que partidos políticos sejam eles vanguardistas ou de massas impantará o socialismo. Deixem os bobos falarem a vontade porque no futuro ninguém vai precisar deles.