sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Será mesmo o fim do capitalismo?



O fim do capitalismo já foi anunciado diversas vezes no século XX, no entanto, a previsão do colapso deste modo de produção não aconteceu. Muito pelo contrário, o capitalismo assim como um doente que aparentava estar em estado terminal conseguiu sobreviver.

No século passado, todas as tentativas de superar este modo de produção fracassaram e as ditas "revoluções socialistas" que obtiveram sucesso, ao invés de superar o capitalismo, construiram na realidade uma nova forma de modelação do capitalismo, o capitalismo de estado, denominado equivocadamente de "sistema socialista ou comunista". Além disso, há vinte anos o mundo testemunhou o fim do modelo de capitalismo estatal, a falência do Estado integracionista, denominado de bem-estar social, e a retomada do liberalismo econômico, denominada de neoliberalismo.

Desta forma, diante do fracasso do "socialismo", muitos "intelectuais" conservadores consideraram que o capitalismo liberal seria o último estágio da civilização humana.

Atualmente, a crise econômica que atinge os países desenvolvidos comprova a falácia destes pensadores. O capitalismo come se sabe não é eterno, pois é um modo de produção que apresenta características que pode levar a sua superação, mas ainda está longe de está em estado terminal.

Em primeiro lugar, a crise econômica está atingindo alguns países com mais e/ou menos intensidade e que estão adotando medidas conforme a situação que enfrentam. Portanto, ainda não é uma crise global, mas que provavelmente poderá ter, inclusive com graves consequências sociais e políticas.

Capitalismo: uma história de amor
Michel Moore


O fim do neoliberalismo não é o fim do capitalismo. O capitalismo como modo de produção demonstrou grande capacidade de transformar e organizar a forma de produção e destribuição e também de superar as crises que pareciam terminais, exatamente porque sempre encontrou novas formas de regulamentação. Desta forma, o capitalismo só entrará em crise terminal, caso ele apresente muitas dificuldades de se reproduzir, ou seja, se as novas formas de regulamentação não permitir que ele sustente.

Atualmente, o capitalismo está encerrando aparentemente um ciclo de regulamentação social que convencionou a chamar de neoliberalismo, e está recorrendo a intervenção estatal para diminuir os impactos da crise. No entanto, o modelo keynesiano que existiu no pós-guerra, dificilmente poderá ter a mesma eficiência que tivera no passado, mesmo porque esta forma de regulamentação social se esgotou, assim como o modelo de capitalismo estatal.

Desta forma, é necessário destacar que o capitalismo ainda está em inicio de uma crise que pode ser terminal, a crise econômica é apenas uma ponta do iceberg que pode desencadear em novas crises política, ambiental, alimentar e entre outras que poderá levar a guerras e revoluções.


terça-feira, 26 de abril de 2011

Os dez mitos da Revolução Cubana

Jayro de Sousa Costa

A revolução cubana foi um dos mais importantes acontecimentos no século XX por ter despertado paixões, desilusões, ódios e enfim uma infinidade de sentimentos que somente quem acompanhou o processo revolucionário pode descrever. Na histografia oficial, a revolução cubana é apresentada como uma luta de jovens rebeldes guerrilheiros, liderados pelo advogado Fidel Castro contra a ditadura de Fulgencio Batista, aliado incondicional do governo do Estados Unidos que sustentava o Estado autoritário. Após anos de lutas, a guerrilha finalmente triunfou em janeiro de 1959 e dois anos depois, Cuba tornou-se o primeiro país latino-americano a se declarar socialista.

No entanto,
a história oficial cubana é recheada de mitos sobre o processo que deu origem a revolução cubana, especialmente pelo fato de que a maior parte da histografia ter sido concentrada na guerrilha e nas suas lideranças Fidel Castro, Ernesto Che Guevara, Camilo Cienfuegos e entre outros. Raramente é abordado, outros sujeitos históricos, como o papel do movimento estudantil, o movimento operário, como se eles não tivessem a mesma importância durante a revolução cubana.
Além de que, a revolução após ter sido concretizada tornou-se um mito na história da América Latina e um exemplo a ser seguido aos países latino-americanos na luta pela "libertação nacional" contra o domínio do imperialismo estadunidense. Muitos jovens latino-americanos nos anos 60 e 70 que viviam em países de regimes ditatoriais se inspiraram na guerra de guerrilhas cubano, sem saber totalmente o que se passou e o que se passava em Cuba durante aquela época.
Os antecedentes

Desde 1930, Cuba vivia intensas lutas de classes provocado pela crise econômica mundial que afetou a indústria açucareira e, que teve conseqüência a queda preço do açúcar. Geraldo Machado, o ditador naquela época, foi derrubado por uma greve geral, em 12 de agosto de 1933. Os protestos populares foram bastante violentos até a formação de um governo provisório com Carlos Manuel de Céspedes Quesada como presidente. No entanto, o governo provisório durou menos de um mês, Céspedes foi deposto pela mobilização dos estudantes universitários e um grupo de sargentos liderados por Fulgêncio Batista, que tomou o controle do exército.
Em meados dos anos 30, a situação em Cuba se normalizou, e Fulgêncio Batista adquiriu não apenas o comando do exército, mas também se elegeu presidente em 1940, com os votos diretos. Dois anos depois, entraram a fazer parte do governo forças políticas que antes eram inimigas, como os comunistas do PSP (Partido Socialista Popular), um deles, o stalinista Carlos Rafael Rodriguez, anos mais tarde, se tornaria o 3º homem da hierarquia cubana, logo após os irmãos Castro.


O ditador Fulgêncio Batista

Os anos 40 em Cuba ficaram marcados pela violência política e uma grande corrupção que afetaram a vida democrática em Cuba, especialmente no governo de Ramón Grau San Martín, aliado de Batista. A violência política se traduziu em uma guerra entre gangsters e segundo muitos historiadores, Fidel Castro estaria envolvido nessas atividades.
Carlos Prío Socarrás tornou-se presidente em 1948, com a missão de combater a corrupção e estabelecer a ordem social. O governo de Pría ficou marcado por estreitas relações com os Estados Unidos e de iniciar um tímido programa de reforma agrária para combater o "comunismo", mas não conseguiu cumprir as suas promessas e nem o seu mandato, pois foi deposto por um golpe militar realizado por Fulgêncio Batista em 10 de agosto de 1952. Iniciou-se aí a construção do mito de Fidel Castro Ruíz e outros mitos.


Primeiro mito:
A guerrilha como vanguarda na luta contra a ditadura de Batista

Não foi a guerrilha quem iniciou a guerra contra a ditadura Batista, e sim os protestos populares de diversos setores da sociedade cubana, em especial os estudantes.
Fidel Castro, dois anos antes de assaltar o quartel de Moncada em 26 de julho de 1953, era apenas um personagem inexpressível na vida política em Cuba, que estava vinculada a figura carismática de Eduardo Chibás do Partido Ortodoxo, conhecido por suas idéias nacionalistas e moralizantes.

O fracassado assalto do quartel Moncada

O assalto ao quartel de Moncada não foi o estopim na luta contra Batista como muitos acreditam, foi muito mais uma ação isolada do que propriamente uma ação organizada. Tanto que a ação fracassou e foi facilmente reprimida de forma sangrenta pelo exército de Batista, e seu líder Fidel Castro, foi preso juntamente com seus companheiros da Ilha de Pinos.

Fidel Castro foi salvo graças à interferência do arcebispo católico Monseñor Enrique Pérez Serantes, um dos bispos mais comprometidos com os problemas sociais em Cuba. Há uma versão de que o arcebispo de Havana, cumpriu ordens do Estado, em razão da esposa de Castro, ser filha de um político muito próximo a Batista.

Bispo de Havana salvou a pele de Fidel

Os protestos populares no ano seguinte foram tão intensos que Batista deu anistia aos revoltosos. Castro cumpriu apenas um ano e meio de prisão, em vez de quinze anos como foi imposto, e antes de partir para o exílio no México, tentou liderar um movimento estudantil na Universidade de Havana contra Batista, mas teve pouco sucesso.           No México, Fidel se aliou com diversos grupos de oposição para elaborar estratégias para a derrubada do governo de Fulgêncio Batista. Enquanto em Cuba, na província de Oriente, Frank País um dos mais destacados membro do diretório M-26 de julho, liderou um ataque que incendiou o quartel policial de Santiago de Cuba. Um ataque bem planejado e que teve mais sucesso e repercussão do que o assalto ao quartel de Moncada. Embora tivesse fracassado na tentativa de conquistar a cidade, causando a morte de três membros do M-26, o diretório praticamente não perdeu armas.

Essa ação antecipou a chegada do Iate Granma que partiu do México no dia 24 de novembro de 1956 no rio Tuxpan com 82 expedicionários, nas quais apenas 12 sobreviveram. A expedição foi um desastre porque além de ter sido arriscada a viagem de muitas pessoas no iate, o movimento quase foi comprometido por esse ato. A ação foi facilmente desarticulada pelas forças repressoras, especialmente após o fracasso da tomada de Santiago de Cuba. No entanto, enquanto em Santiago de Cuba o número de baixas foi pequeno, no Iate Granma, a maioria dos seus integrantes morreu além de ter perdido armamentos.
Iate Granma, símbolo da revolução

Os doze foram salvos graças à organização do M-26 entre os camponeses e a guerra das milícias. A partir de então, começa a lenda e o mito da guerrilha, como a principal desencadeadora do processo revolucionário em Cuba e, em especial a figura de Fidel Castro. Desta forma, vários personagens que tiveram importância durante a revolução foram colocados em segundo plano e/ou desconsiderados, assim como as divergências entre os membros do diretório, especialmente em relação ao caudilhismo de Fidel Castro, as lutas operárias e camponesas e também de outras forças políticas. Desta forma, episódios importantes sobre o processo revolucionário como a entrada das mães de presos políticos em 1957, a greve geral de 9 de abril de 1958, o movimento estudantil e outros focos guerrilheiros, são colocados em segundo plano. Além disso, pouco é mencionado o fato de que o partido comunista cubano era aliado a Batista, e aderiu à revolução apenas em última hora que posteriormente ganharia força na contra-revolução stalinista de 1961, na qual Fidel pela primeira vez declarou em público que era “marxista-leninista”.

Segundo Mito
A negação de diversas concepções dentro do M-26 de julho

A histografia oficial aborda o M-26 como um movimento unido em torno da figura mística de Fidel Castro como se não houvesse diferenças entre as diversas lideranças como Frank País e René Latour. O M-26 é apresentado como um movimento homogêneo, mas ao contrário da versão oficial, era um movimento bastante heterogêneo, dentro do movimento existiam comunistas, anarquistas, socialistas anti-soviéticos e liberais radicais. O papel ideológico no M-16 era o que menos importava, pois todos tinham uma missão de combater a ditadura de Batista.

Frank País, um dos mais ativos revolucionários

As diferenças ideológicas foram colocadas de lado durante a luta contra Batista, no entanto, o conflito adquiriu mais força a partir da divisão no movimento 26 de julho entre a Sierra (a Sierra Maestra) e os Llanos (a cidade). Enquanto na Sierra era organizada pelo Exército Rebelde, em que Fidel Castro era o líder, os Llanos eram formados por milícias organizadas como uma direção coletiva chamada Diretório Nacional do movimento 26 de julho.

O objetivo do diretório do M-26, representados por Carlos Franqui, Armando Hart, Faustino Perez, Mario Llerena, Enrique Oltusky era de diminuir os impulsos caudilhistas de Fidel Castro.
Todavia, a intenção do diretório de tentar moldar Fidel Castro a se tornar uma liderança popular, e não um caudilho foi em vão. Castro assim como Che Guevara, não se importavam muito com o diretório nacional, e logo após a morte de Frank Pais, assassinado pela polícia política da ditadura, René Latour, conhecido com o codinome Daniel, assumiu o diretório nacional e teve sérios enfrentamentos especialmente com Fidel Castro.

Dois episódios foram fundamentais para o fracasso de Daniel e o fim da oposição do diretório do M-26: a assinatura do pacto de Miami, em setembro de 1957 e o fracasso da greve geral em abril de 1958.
Foi o inicio do fim para uma geração de democratas que acreditaram na revolução humanística em Cuba.


Terceiro Mito:

A anulação do papel dos trabalhadores urbano e rural e de outras forças políticas

A classe operária cubana era umas reivindicativas na América Latina a ponto de ter colocado umas da melhores legislações trabalhistas no mundo, independentemente da alternância entre ditadura e democracia.

O sindicalismo em Cuba, assim como de muitos países latino-americanos, foi impulsionada por anarquistas que perderam a influência logo após a revolução bolchevique de 1917. No entanto, Cuba foi um dos países que mais desenvolveu não apenas o anarco-sindicalismo, mas também o movimento anarquista que influenciou muitos trabalhadores em greves-gerais.


O anarquismo em Cuba
Os comunistas stalinistas só começaram a ter força política, a partir do primeiro governo de Fulgêncio Batista, e nesse período, Batista com o apoio dos comunistas concedeu alguns benefícios aos sindicatos, com a intenção de amortecer os conflitos sociais. Embora não tivesse a hegemonia, os comunistas, assim como outras correntes políticas, desempenharam o papel de controlar o movimento operário. Dessa forma, boa parte dos sindicatos aliada aos comunistas apoiou o golpe de Batista em 1952. No entanto, o período ditatorial de Batista não foi forte o suficiente para impedir as mobilizações dos trabalhadores. Houve greves na indústria açucareira, a principal indústria do país e mobilizações dos trabalhadores rurais, que ao contrário dos trabalhadores urbanos, viviam em regime de escravidão, em função do baixo índice de sindicalização.

Nos anos 50, as principais greves que tiveram importância na luta contra Batista foram: a greve dos trabalhadores bancários em 1955, organizada por José Maria de Oliveira, Reynol Gonzáles e Mariano Rodriguez; a greve geral de 1957, liderado por Frank Pais; e a greve geral de abril 1959, essa última deu inicio a consolidação do poder carismático de Fidel Castro. Todos elas não tiveram nenhum respaldo do PSP, o partido comunista cubano, pois eles eram aliados de Batista.

Além disso, deve ser destacado o papel dos anarquistas da Associação Libertária Cubana (ALC), que raramente é mencionada. A ALC participou na luta contra Batista, desde o primeiro governo e foi o primeiro grupo a alertar o perigo do autoritarismo de Fidel, três anos antes da consolidação da revolução.

Os camponeses foram fundamentais para o processo revolucionário, em razão de ser o setor mais desprotegido da sociedade cubana. Eram altamente explorados, especialmente no trabalho de cana-de-açúcar, e a maioria dos trabalhadores rurais não era sindicalizada. Todos os grupos políticos de oposição a Batista tinham como objetivo a reforma agrária para diminuir os conflitos sociais.

Quarto mito:
Cuba era um país pobre e um bordel dos Estados Unidos

Cuba era a 5º nação do mundo de ingresso per capita na América Latina, o que existia era uma grande desonestidade administrativa, violência política entre diversos grupos e antes da revolução, a maior parte das empresas estava em mãos dos proprietários cubanos e não era um país que estava dominado pelos Estados Unidos.


Os Estados Unidos tinham atividades econômicas ilegais em Cuba que cresceram durante os anos 40 e principalmente nos anos 50, um período de grande crescimento econômico e industrial no país. Desta forma, criou a ilusão de que Cuba fosse o bordel dos ianques. De fato, existia grupos mafiosos aliados a Batista que tinham grande poder na ilha, mas o papel da máfia cubano-estadunidense era semelhante a Itália, ou seja, a sua influência era em decorrência da desmoralização das instituições.


Máfia cubano-estadunidense
Ao contrário da lenda que retrata como típica república bananeira, Cuba tinha índices sócio-econômicos semelhantes aos países mais ricos da América Latina como Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica e não aos países mais pobres como Haiti, Bolívia, Paraguai. No entanto, havia grandes desigualdades entre a cidade e o campo, e uma forte repressão contra os trabalhadores. Durante os governos de Batista, tanto na era democrática quanto na era ditatorial, os comunistas participaram do poder político.
Quinto mito:
A libertação nacional
Gravura da revolução cubana

A tese de libertação nacional é um dos maiores mitos criados pela “esquerda” latino-americana, que se auto-intitula como marxista, progressista ou coisas do gênero. Para começar o mito do nacionalismo progressista teve origem com a expansão do capitalismo das nações desenvolvidas para os continentes asiático, africano e os países da América Latina. Essa expansão capitalista foi chamada de imperialismo.

Os primeiros autores que mencionaram a expressão imperialismo foram Rosa Luxemburgo e Wladimir Ilich Lênin. Para Luxemburgo, o imperialismo era a conseqüência da expansão do capital, no entanto, Lênin fez uma análise do imperialismo absolutamente questionável.


Segundo Lênin, o imperialismo representava uma modificação do capitalismo em que ele denominou de “fase suprema do capitalismo”, em razão da fusão entre o capital industrial e o bancário, resultando no capitalismo financeiro. Desta forma, o capitalismo concorrencial se transformou em um capitalismo monopolístico que passou a controlar o processo de produção.

Além disso, Lênin destacou que os países ricos imperialistas exploravam as populações dos países de economia atrasada, em que a classe operária dos países mais ricos se beneficiavam da exploração imperialista, através das reformas sociais e os salários mais altos, ou seja, por meio da transferência de renda, os salários mais altos do proletariado dos países avançados eram decorrentes do baixíssimo salário do proletariado dos países subdesenvolvidos.

Essa tese é completamente insensata em termos propriamente marxista, pois não se mede o nível de exploração em razão dos salários serem mais altos ou mais baixos, mas da referência à quantidade de mais-valor produzida em relação ao salário, ou seja, os trabalhadores dos países desenvolvidos são até mais explorados do que os países subdesenvolvidos, em razão da utilização mais massiva do uso da tecnologia nos locais de trabalho.


A superexploração dos trabalhadores subdesenvolvidos e a transferência de riqueza não são usadas para o aumento de salários dos trabalhadores, mas como sabiamente afirmou Rosa Luxemburgo é a própria decorrência do capital. O capital não tem pátria.

Os argumentos de Lênin foram feitos para sustentar a revolução bolchevique de 1917, que se transformou a Rússia no primeiro país de capitalismo estatal do mundo, pois foi a primeira revolução antiimperialista do mundo. Inicialmente era uma revolução proletária em que surgiram os sovietes, os conselhos operários, organizações horizontais nascidas no processo da frágil revolução burguesa de fevereiro de 1917. No entanto, um golpe de estado praticado pelos burocratas do partido bolchevique, em que ficou conhecido como Revolução de Outubro, deu fim ao processo de uma autêntica revolução socialista que estava em desenvolvimento. O partido bolchevique utilizou os sovietes para a conquista do poder estatal.


W. Lênin, o ideologo do bolchevismo
O socialismo passou a ser confundido com estatismo e a luta de classes se transformou em luta entre países desenvolvidos contra países subdesenvolvidos. Essa deformação do marxismo, conhecida como “marxismo-leninismo” se ampliou em todas as partes do mundo, em razão do sucesso do partido bolchevique, que depois passou a ser chamado de partido comunista. O capitalismo de estado se expandiu graças às revoluções chinesa, cubana, vietnamita, entre outras e também a expansão do imperialismo soviético nos países do leste europeu após a segunda guerra mundial.

A estratégia dos PCs (partidos comunistas) nos países subdesenvolvidos era de apoiar uma suposta “burguesia nacional” progressista na luta contra os imperialismos. Nos países latino-americanos, o enfoque era a luta contra o imperialismo dos Estados Unidos. Desta forma, os governos populistas como de Vargas, Perón e Cárdenas foram classificados por boa parte dos “marxistas” latino-americanos como um período progressista. Isto é, o nacionalismo ocupou o lugar do socialismo que passaram a se tornar sinônimo, ou melhor, dizendo o primeiro passo de “transição ao socialismo”.

Castro e Kruscev, as duas faces da burocracia

Durante os anos 60, essa estratégia anti-marxista foi por água a baixo, em decorrência das sucessivas ditaduras militares que se alastraram em quase todos os países latino-americanos. O imobilismo dos PCs ficou evidente e a juventude latino-americana inspirada na revolução cubana, tentou recriar a experiência cubana em formar diversos focos guerrilheiros para impulsionar a libertação nacional e consequentemente “implantar o socialismo”.
No entanto, logo após ter concretizada a “revolução”, Cuba tornou-se nada mais do que uma província satélite da União Soviética. O dominador não era o imperialismo ianque, mas o imperialismo soviético. Atualmente, são as redes hoteleiras estrangeiras que juntamente com o Estado controlam a economia.

O mito do “nacionalismo libertador” é a ideologia das “esquerdas tradicionais” que contraria por completo a noção de socialismo.


Sexto mito:
A revolução

Não houve a revolução em Cuba. O que realmente existiu foi uma luta contra a ditadura de Batista de diferentes grupos políticos que reuniam diversos segmentos da sociedade: liberais, católicos, socialistas, comunistas, anarquistas, que se rebelaran contra o regime ditatorial.
Para se ter uma ideia, Fidel assinou um pacto denominado Manifesto da Sierra Maestra, com diversas correntes políticas de realizar eleições livres, a partir da queda de Fulgêncio Batista. A resistência do ditador em não realizar uma abertura política para a transição democrática, fez com que essa luta adquirisse um caráter revolucionário.
Fidel e companheiros marcham em Havana

A oposição a Batista foi tão intensa que até mesma algumas frações da burguesia apoiaram a derrocada do regime, que contou com o apoio até mesmo dos Estados Unidos, que suspenderam a venda de armas para o estado cubano, em razão dos protestos de muitos cubanos exilados. As manifestações sociais como o protesto das mães de presos políticos, a greve geral de 1958, o surgimentos de diversas frentes guerrilheiras como em Villas comandadas por Guillermo Menoyo, na qual se uniu o movimento estudantil, além das instituições cívicas e profissionais, a Igreja católica se uniram no protesto geral que resultou na queda da ditadura de Fulgencio Batista, e até mesmo o partido comunista que estava aliado a Batista, passou para a oposição. O ditador tentou um trunfo de tentar realizar novas eleições, mas já era tarde.

Os primeiros dias da revolução foram realizados diversos atos de apoio popular e uma festa generalizada que contagiou a nação. No entanto, a revolução não foi só festa. Durante o processo revolucionário três fatos merecem ser destacados para demonstrar de que houve mais uma contra-revolução do que uma revolução:


1) repressão às oposições que surgiram dentro do processo revolucionário e que não estavam de acordo com a “infiltração comunista” no país,
2) a violência indiscriminada contra qualquer cidadão que supostamente tivesse ligação ao regime de Batista,
3) o fortalecimento dos membros do partido comunista que usufruíram da revolução.

Para o professor estadunidense Irving Louis Horowitz, especialista em militarismo cubano, a revolução cubana desde a sua origem é um regime militar, pois o caráter do sistema veio da guerra de guerrilhas. Os membros que lutaram nas guerrilhas não tinham uma formação classista, pois se trata de qualquer coisa menos de uma revolução proletária.

O jornalista e escritor cubano Carlos Franqui vai além desta analise de Horowitz, destacando que a revolução cubana foi o militarismo do exército rebelde da Sierra Maestra que triunfou e não o movimento civil 26 de julho. Segundo Franqui, que tinha sido diretor do Jornal Revolución no inicio da revolução, relatou que os fuzilamentos em massas dos apoiadores e também dos supostos colaboradores de Batista, tiveram o apoio de mais de 90% da população.

Carlos Franqui à direita no meio está junto a Fidel Castro; À esquerda, a imagem de Franqui desapareceu sob ordens de Fidel

Dois episódios ilustram perfeitamente como o militarismo e a intolerância acompanharam o processo revolucionário como esses dois casos, a renúncia de Huber Matos e a morte misteriosa de Camilo Cienfuegos.
Matos um dos mais importantes líderes revolucionários e comandante na cidade de Camaguey, escreveu uma carta privada a Fidel denunciando a infiltração comunista dentro da revolução. Confrontado com essa “oposição”, Castro viu nesse gesto um ato de traição, e ordenou sua prisão e ameaçou inclusive fuzilá-lo, mas teve a prudência de não criar um mártir dentro da oposição. Huber Matos ficou 20 anos na prisão até se exilar do país.

Huber Matos, importante personagem na revolução preso durante 20 anos

Camilo Cienfuegos, o mais popular entre os revolucionários, teve a missão de prender Huber Mattos, no entanto morreu em razões misteriosas em um acidente aéreo. As fontes mais confiáveis indicam que a morte de Cienfuegos, fora planejada pelos irmãos Castro desconfiados da sua popularidade e o seu espírito de iniciativa que poderiam levar no futuro um confronto na disputa pelo poder.


Camilo Cienfuegos, morto misteriosamente
Após ter completado o processo revolucionário, tanto o movimento estudantil e o movimento operário foram forçados a defender a nova classe dominante que se apresentava como “socialista”. Ambos perderam a sua autonomia e tornaram-se porta-vozes do regime político. O episódio mais destacado do movimento estudantil durante o processo revolucionário foi a disputa eleitoral entre Rolando Cubelas, apoiado pelos irmãos Castro, e Pedro Boitel. As eleições indicavam que Boitel venceria em razão de sua grande popularidade, mas a cúpula partidária por meio de diversas artimanhas, elegeu Cubelas. Após a eleição de Cuberas, nas universidades, os burocratas do regime cobravam “a purificação ideológica” dos professores, que resultou na evasão de 80% do quadro docentes em 1960 e também dos estudantes, que resultou no fim da autonomia universitária.

Este fato contribuiu para que muitos estudantes e professores partissem para o exílio e para oposição clandestina, uma vez que boa parte do movimento estudantil, além de ser anti-batistiana era também anticomunista, pois muitos militavam na Agrupação Católica de Universidade. Pedro Boitel foi preso no mesmo ano e em 1972 acabou morrendo, em decorrência de uma greve de fome. Rolando Cubelas que tinha sido o vencedor nas eleições contra Boitel tornou-se mais tarde oposicionista e foi preso em 1966.

Pedro Boitel, assassinado pelo regime cubano

O movimento sindical cubano, que era um dos mais ativos do mundo, teve o mesmo destino que o movimento estudantil. Como de costume, Fidel Castro pregou a unidade através de uma candidatura única para se contrapor ao perigo “contra-revolucionário” nos sindicatos. A Confederação de Trabalhadores Cubanos (CTC) encontrou resistência nas suas bases, mas foram incapazes de contrapor ao unitarismo. Foi a partir de então, que houve uma luta entre os unitaristas e os antiunitaristas, esses últimos classificados de contra-revolucionário.


David Salvador, dirigente operário do M-26 e integrante da direção do movimento e muito popular, teve a missão de tentar unificar o movimento sindical, mas acabou sendo afastado e em seguida preso em 1961. Este foi o destino de muitos sindicalistas que lutaram pela autonomia sindical, a prisão e/ou o exílio.


Revolução, governo, povo passaram a ser uma coisa só. Nesse caso, o papel dos sindicatos não era representar os interesses do trabalhador diante do estado empregador, mas transmitir ao povo a necessidade de agir conforme os propósitos da “revolução”, ou seja, da cúpula partidária.
A mensagem de Fidel e dos burocratas eram bastante claras “Dentro da Revolução tudo; contra a Revolução nada”. Isto é, não poderia surgir nenhuma organização autônoma fora aos desígnios do Partido.


Sétimo mito:

A democracia social e as conquistas sociais em Cuba

Em relação aos países subdesenvolvidos, Cuba já apresentava um dos melhores índices socioeconômicos na América Latina. Em 1958, antes da revolução, Cuba ocupava a 22° posição de 122 países analisados, em matéria sanitária. A taxa de mortalidade já era uma das baixas do continente e a alfabetização, especialmente nos centros urbanos chegava em 80%, semelhante aos países mais ricos do continente como Chile e a Costa Rica.

As estatísticas em si não mostram totalmente a realidade cubana antes da revolução, pois havia grandes diferenças entre o campo e a cidade e, as pesquisas da época não apresentavam as múltiplas complexidades que existem nos dias de hoje, mas indicavam que a situação social de Cuba se aproximava mais dos países mediterrâneos ao dos co-irmãos latino-americanos. As conquistas sociais não são “milagres do castrismo”.


Durante as décadas de 40 e 50, Cuba apresentou um grande crescimento econômico, assim como todos os demais países latino-americanos, que se beneficiaram com o desenvolvimento industrial do pós-guerra. A proximidade com os Estados Unidos e a degeneração política permitiu o crescimento de atividades ilegais na ilha que cada vez mais ganhava espaços.
Educação, um dos triunfos da burocracia partidária
A histografia tradicional transfere todos os méritos das conquistas sociais à revolução. De fato, a saúde e a educação foram ampliados, especialmente nas áreas rurais onde estavam concentrados os maiores problemas sociais do país. O programa de reforma agrária estava presente em todos os grupos oposicionistas que lutavam contra Batista, mas apenas os guerrilheiros aparecem como os responsáveis diretos pelos sucessos da revolução.
A argumentação que Cuba é uma “democracia social” em razão dos bons índices sociais e os serviços gratuitos, independentemente da ditadura de partido único não se sustenta. O suposto “igualitarismo” da revolução não se traduz de fato na realidade, pois em Cuba, assim como outros países que adotaram o planejamento centralizado no século XX, existe uma nítida separação de classes onde a burocracia que é a burguesia estatal usufrui de privilégios que não estão a serviço da população.

Oitavo mito:
A maioria do exilados é composta por contra-revolucionários

Essa é a maior propaganda do regime castrista para se manter no poder. Como será possível que mais de 1,5 milhão de pessoas exiladas no exterior em um país de apenas 11 milhões possam ser consideradas contra-revolucionárias? Los “gusanos” (os vermes), os exilados cubanos como são considerados pelo castrismo, se constituem em sua maioria por trabalhadores urbanos e rurais que foram traídos pela “revolução”.

A primeira fase da revolução em 1959, a maior parte dos exilados foi composta pelas classes dominantes, no entanto, a partir da contra-revolução leninista, em 1961, e a consolidação do capitalismo estatal, a onda emigratória passou a ser composta majoritariamente por camponeses, operários, artistas, intelectuais, ou seja, o povo que apoiou e acabou se desiludindo com a “revolução”.


A existência da máfia cubano-estadunidense perto da ilha, em Miami, como a Alpha 66, e outros grupos criminosos que perderam o controle do comércio e suas propriedades em Cuba e, que pressionam o congresso americano para legalizar o embargo, é composta na realidade apenas por uma minoria dos ricos exilados, e que não tem nada a ver com a maioria da população exilada.

Os balseros desiludidos com a "revolução"

Os Estados Unidos têm realizado ataques a Cuba, não por principio “humanístico ou democrático”, mas por ter sido desafiado por um caudilho que se aproveitou dessa situação para solidificar o seu poder. Os grupos "contra-revolucionários" aproveitam muitas vezes do desencanto e do ódio dos recém exilados para realizar ataques à ilha que são atraídos para esses grupos, mas apenas é uma minoria. A maior parte dos grupos de oposição é composta por várias agremiações políticas que reúnem liberais, social-democratas, socialistas humanísticos e até mesmo os anarquistas, que já tiveram muita influência na classe trabalhadora.

A fragmentação dessas oposições é a principal razão para o sucesso e a popularidade de Fidel Castro. A tentativa desses grupos de restabelecer a democracia representativa multipartidária em Cuba é interpretada pela maior parte da população cubana na ilha como um mecanismo de instaurar o capitalismo privado, em razão de que boa parte dessas oposições serem compostas por grupos conservadores e liberais. Esse é o principal triunfo de Fidel, juntamente com o estúpido e criminoso embargo estadunidense.


A grande maioria dos exilados é composta por pessoas comuns, e o exílio dos cubanos geralmente não aparece na histografia moderna. Basta mencionar o exílio de escritores que inicialmente apoiaram a revolução como Carlos Franqui, Guillermo Cabrera Infante, Virgilio Piñera, Reinaldo Arenas, Roberto Valero, Heberto Padilla e entre tantos outros intelectuais, artistas que foram forçados a se exilar.

Os exilados cubanos são retratados como pessoas de caráter anti-social que não se adaptaram ao “modo de vida socialista” e possuem fascínio pelo capitalismo. Esta é a mais tragicômica conclusão que extraiem certos setores intelectuais que apóiam o castrismo.


É necessário sempre destacar que a primeira onda migratória foi da burguesia local e dos apoiadores de Fulgencio Batista ocorrido nos primeiros anos da revolução. A segunda onda migratória foi dos desiludidos com o processo revolucionário, que provinham dos setores médios que apoiaram a revolução, mas que se afastaram dela totalmente. E por fim, as migrações dos setores populares que aumentaram consideravelmente a partir dos anos 80 e 90, o episódio mais destacado é o êxodo do Porto de Mariel em 1980.
Os marielitos fogem de Cuba

O êxodo de Mariel foi o episódio mais claro da demonstração da insatisfação popular contra o regime ditatorial. O movimento iniciou no dia 5 de abril de 1980, quando dez mil cubanos invadiram a embaixada do Peru, pedindo asilo diplomático com a intenção de sair do país. Diante deste fato, o governo cubano teve que atender o apelo popular e, abriu o Porto de Mariel para todos os cidadãos dispostos a abandonar o país. Entre 15 de abril e 31 de outubro de 1980, saíram de Cuba em torno de 125.000 pessoas, e a maioria delas se refugiaram na Flórida.


O episódio de Mariel e tantos outros episódios comprovam a falácia “contra-revolucionária” pregada pelos dirigentes cubanos ao retratar os exilados como “gusanos”. A violência contra os marielitos foi tão intensa que até mesmo, uma das mais destacadas figuras da revolução, a dirigente cultural Haydée Santamaría, que participou do assalto do quartel Moncada, se suicidou, após assistir a fuga em massa dos compatriotas que não aguentavam mais a revolução.

Haydée Santamaría, histórica dirigente cubana, se suicidou após o êxodo de Mariel em 1980


Nono mito:
O embargo estadunidense como causador dos males de Cuba

O estúpido embargo praticado pelos Estados Unidos é a principal bandeira que Fidel e os burocratas do PCC utilizam para justificar a situação de pobreza da população cubana. Os dirigentes cubanos responsabilizam os Estados Unidos por ter prejudicado em bilhões de dólares a economia cubana. Boa parte que se autoproclamam de “esquerda” e que até não concordam com o autoritarismo do “comandante” caiu neste conto do vigário.

Os Estados Unidos, os eternos inimigos

A origem do embargo estadunidense ocorreu em razão do processo de nacionalização de empresas e propriedade estadunidenses, que em muitos casos tinham participação de capital cubano, durante o período revolucionário entre 1959 até 1961. Além disso, Fidel Castro com o auxílio do seu irmão Raul, que pertencia ao partido comunista local, e deu sustentação a ditadura de Batista, iniciaram uma aproximação com a União Soviética para dar apoio militar e logístico à revolução. O PSP, partido comunista cubano, deu apoio à revolução somente quando ela estava concretizada, e ganhou espaços no aparelho do estado, em detrimento aos diversos grupos revolucionários, que em boa parte eram anti-soviéticos.

Propaganda contra o embargo estadunidense a Cuba
A aproximação com a União Soviética e a falta de indenização das empresas estadunidenses motivaram o império a realizar o estúpido embargo contra Cuba. Indubitavelmente o embargo praticado pelos Estados Unidos é condenável e criminoso e que prejudicou a economia cubana; os ianques proibiram a qualquer empresa estrangeira que esteja associada ao Tio Sam de realizar negócios na ilha e, também realizou diversos atentados contra Fidel e a ilha. Isso existiu de fato, mas há o outro lado da moeda que os dirigentes cubanos e nem a “esquerda” latino-americana menciona.
Durante 30 anos, a União Soviética investiu em média por ano, 6 bilhões de dólares na ilha, e a maior parte da receita foi usada para fins militares, ao ponto de Cuba ter se transformado o terceiro exército do continente americano, atrás dos Estados Unidos e Brasil. Isso com uma população de apenas 10 milhões de habitantes. A justificativa como sempre era a defesa contra o imperialismo norte-americano.

O militarismo em Cuba é tão acentuado que 1 em cada 27 habitantes pertencem aos quadros militares do partido, que estão subdimensionadas nos comitês de defesa revolução, uma espécie de big brother local, ou seja, órgãos de espionagem sobre a população para combater qualquer prática oposicionista, ou como eles dizem “contra-revolucionária”.

Para se ter uma ideia, Cuba recebeu apenas de subsídios da União Soviética, um valor cinco vezes maior do que o Plano Marshall, o plano econômico que recuperou as economias européias destruídas pela segunda guerra mundial. Além disso, a burocracia cubana, destinou parte do subsídio em aventuras bélicas na África (Angola, Moçambique, Etiópia), na América Latina (as guerrilhas), na Ásia, e que resultou na maioria dos casos em fracasso.
O CDR, orgão de espionagem do regime cubano

A ideia simplista de que o imperialismo estadunidense é o responsável pela situação em Cuba, além de ser falsa, demonstra o total desproposito de setores que ainda apóiam o capitalismo de estado e a ditadura de partido único do caudilho Fidel Castro. Cuba tem relações comerciais com todos os países, a exceção dos Estados Unidos, e o embargo é amplamente contornado pelo comércio com todos esses países. Muitos produtos que chegam dos Estados Unidos a Cuba provêm de países terceiros que mantêm relações comerciais com o império e, atualmente os estadunidenses são os maiores fornecedores de alimento para a ilha. Outro fato que merece ser destacado é que Cuba pertence aos quadros da OMC (Organização Mundial do Comércio) e pode manter relações comerciais com qualquer país.

O embargo dos Estados Unidos já foi rejeitado pela maioria dos países. Das 192 nações, 184 votaram contra o embargo.


O regime cubano responsabiliza diretamente o embargo, para esconder as mazelas do capitalismo estatal, ou como diria Marx, o capitalismo comunal que não tem força para ser competitivo com as economias de capitalismo privado. A centralização da economia por meio do estado, a destruição de pequenas propriedades e a inibição da iniciativa individual, isso sem contar com os desastrosos planos econômicos, baseados no voluntarismo e nos trabalhos forçados são os principais responsáveis pela situação do país.

O embargo dos Estados Unidos contra Cuba, em vez de enfraquecer o poder de Fidel, fez apenas aumentar. Não é à toa que o caudilho por mais autoritário que seja, é amado como uma liderança carismática por boa parte da população da ilha. Caso o embargo não existisse, poucas pessoas apoiariam Cuba e Castro.

Décimo mito:
O socialismo
O mito dos mitos é a propaganda de que em Cuba existe ou existiu socialismo. Socialismo não existe e nunca existiu em lugar nenhum no mundo na sociedade moderna. O que existiu nos países ditos “socialistas reais” foi nada mais que um capitalismo de estado, em que a burocracia partidária dos partidos comunistas, de inspiração bolchevique, se converteu em uma burguesia de estado, mudando apenas a forma de capitalismo. Para os incautos estatistas nada melhor do que essa avaliação de Friederich Engels:

“Não se pense porém que as forças produtivas percam sua função de capital ao se transformarem em sociedades anônimas ou em propriedade do Estado. No que se refere às primeiras não é preciso que prove essa alternativa. Por seu lado, o Estado moderno é uma organização que a sociedade burguesa se associa para defender o regime capitalista contra os ataques quer dos trabalhadores, quer dos capitais isolados.

O Estado moderno, qualquer que seja sua forma, é uma máquina essencialmente capitalista, é o capitalista coletivo real. E quanto mais forças produtivas coloque sob sua tutela mais se transformará em capitalista coletivo ideal em capitalista coletivo real.”

(Engels F. Anti-during)

Por meio desta análise Engels mostra que é impossível a utilização do Estado para alcançar o socialismo, pois como já dizia Marx, todo Estado é um aparelho de dominação de classe, independentemente do nome que lhe é dado burguês, liberal, socialista, operário ou coisas deste tipo.

Cuba apresenta todas as características de uma sociedade capitalista estatal, em que a burocracia tornou-se burguesia de estado.

1) Os meios de produção pertencem a uma classe minoritária dominada pela burocracia do partido comunista.

2) Os trabalhadores estão separados dos meios de produção, ou seja, existe trabalho assalariado, portanto há a produção de mais-valia, ou seja, o trabalhador produz excedente que é apropriada pela burocracia estatal que investe em indústria pesada e na indústria bélica e um forte aparelho de propaganda para enquadrar o trabalhador.


3) A propriedade jurídica é coletiva (estado), mas a propriedade real é privada.
No capitalismo individual predomina a propriedade privada individual, no capitalismo de estado predomina uma propriedade de uma classe que a gera coletivamente através do estado por meio da burocracia.

4) A existência de um controle estatal sobre as forças produtivas dirigida por uma burocracia é uma relação de classe, portanto uma relação de dominação. “o estado é aparelho da classe dominante”.


5) A estatização não elimina a lei do valor, lei que determina a sociedade capitalista. Enquanto no capitalismo privado, a lei do valor se aplica no mercado, no capitalismo de estado, a lei do valor se aplica no jogo de planos. Não é à toa que o capitalismo privado se denomina como economia de mercado, o capitalismo de estado é chamado de economia planificada.
6) As relações de produção e consequentemente as relações sociais em Cuba são as mesmas do que qualquer país capitalista privado.
7) A repressão e a “propaganda ideológica revolucionária” são elementos mais eficientes para reproduzir essa dominação. As prisões, os hospitais psiquiátricos e os trabalhos forçados são comuns. A superestimação do “inimigo externo” como é o caso do imperialismo é outro ingrediente nesse tipo de regime para justificar e legitimar a sua dominação.
8) Há um sistema monetário idêntico ao capitalismo privado, portanto existe inflação. Todos os produtos, mesmo os de bens de produção são transacionados em mercado, no entanto este é controlado pelo estado que restringe a livre iniciativa, destruindo qualquer possibilidade de associação de livres produtores como é a essência do socialismo. Em razão do controle estatal na economia, desenvolveu-se ao longo dos anos “o mercado negro” em razão do planejamento centralizado.
9) Neste regime reina a mais feroz ditadura do capital por meio do estado em sua expressão mais decadente que é camuflado pelos programas sociais como a reforma agrária e urbana, a promoção da educação, da saúde, do investimento em esporte e erradicação da miséria. Todos estes programas são típicos da sociedade burguesa. A erradicação da miséria, no entanto significa a socialização da pobreza, ou seja, um nivelamento social muito baixo. Os sindicatos são controlados pelo estado.
10) A ideia de que a burocracia (a vanguarda) enraízada no poder irá deixá-lo por livre e espontânea vontade dos seus dirigentes após ter cumprido a sua “fase educadora” após a luta contra o imperialismo é simplesmente inimaginável. Somente quem acredita em Papai Noel pode acreditar em tamanho absurdo.
Marx contra o capitalismo de estado em Cuba

Marx por ele mesmo

Para finalizar é importante consultar o filosofo alemão Karl Marx, em desmistificar este tipo de sociedade que ele nunca defendeu, e esclarecer que antes mesmo do surgimento do capitalismo estatal (comunal), Marx havia esboçado uma crítica no livro Manuscritos Econômicos e Filosóficos ao que ele classificou de “comunismo grosseiro”. Eis os trechos

O comunismo é a expressão positiva da eliminação da propriedade privada e, antes de tudo a propriedade privada universal. [...] O comunismo é: 1) na sua primeira configuração apenas a generalização e o comprimento da referida relação; como tal manifesta-se numa dupla configuração: o domínio material surge-lhe tão amplo que ele procura destruir tudo o que mostra incapaz de ser possuído por todos como propriedade privada; desejar eliminar o talento etc., pela força. A posse física imediata, aparece-lhe como única finalidade da vida e existência. O papel do trabalhador não é eliminado, mas estende-se a todos os homens; [...] semelhante comunismo – a medida que nega todas as instâncias a personalidade do homem – constitui apenas a expressão lógica da propriedade privada que esta é negativa. [...] O comunismo grosseiro é apenas o ponto culminante da inveja e do nivelamento com base no mínimo pré-concebido. Que a eliminação da propriedade privada só em pequena medida representa uma legítima apropriação, prova-se pela negação abstrata de todo o mundo do cultivo e da civilização, pelo retorno à antinatural [IV] simplicidade do individuo pobre e carente, que não só ultrapassou, mas nem sequer atingiu ainda a propriedade privada.


A comunidade é apenas a comunidade do trabalho e da igualdade do salário, que o capital comunal, a comunidade como capitalista universal recompensa. Os dois aspectos da relação se erguem a uma suposta universalidade; o trabalho como a condição em que cada um se encontra situado e o capital como a universidade e o poder reconhecidos da comunidade.
[Marx, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. Ed. Martin Claret, ppg 135-136]

Através desses trechos, é possível mostrar que Marx, embora em seu tempo não pudesse prever o surgimento capitalismo de estado e a burocracia como classe social, colocou esboços do que seria o pseudo-comunismo; o comunismo grosseiro, que não passa de uma comunidade do trabalho e da igualdade do trabalho em que o capital universal (o estado) recompensa e o papel do trabalhador não é eliminado, e que está de acordo com as teorias da burocracia.

Em Cuba, assim como qualquer sociedade capitalista, há a exaltação do trabalho alienado e, nesse caso, os trabalhadores escravizados pelo estado-patrão são praticamente obrigados a defender a “pátria socialista” e cumprir as metas que a burocracia lhes impõe. Um bom exemplo disso, foi o episódio das 10 milhões de toneladas de safra de cana-de-açúcar, nos fins dos anos 60, meta em que a burocracia estatal tentou impor aos trabalhadores, para dar um passo a industrialização e tirar a economia do caos. O resultado foi um fracasso generalizado que arruinou a economia cubana. A ideologia voluntarista encarnada na figura Ernesto Che Guevara, defensora do “homem novo” guiado apenas pela “consciência revolucionária” foi uma das tantas ideologias produzidas pela burocracia partidária cubana para esconder a dominação sobre os trabalhadores. O próprio Che é um personagem transformado em mito, chegando ao absurdo de gerar um fanatismo e uma adesão acrítica de seus seguidores que se consideram “de esquerda” que mal conhece a revolução cubana.

Che Guevara, personagem que se transformou em mito

No inicio da revolução, Cuba era vista pelo mundo como farol de esperança da humanidade, em especial na América Latina, na luta contra o imperialismo estadunidense. O que se passou em Cuba durante os últimos cinqüenta anos foi a instauração de um regime ditatorial, igualmente aos que tiveram nos países do Leste Europeu subordinada à União Soviética e, um enorme vazio para os cubanos que tentaram realizar uma revolução humanística, mas que no fim colheu um fruto amargo que é difícil de engolir.


Referências Bibliográficas:
Livros e artigo

DOLGOFF, Sam. A revolução cubana. Madrid, Campo abierto, 1978
FRANQUI, Carlos. Retrato de Família com Fidel. São Paulo, Record, 1981
HILB, Claudia. Silêncio Cuba. São Paulo. Paz e Terra, 2010
MARX, Karl. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo, Martin Claret, 2001
MOTTA, Fernando C. Prestes. O que é burocracia?. São Paulo, Brasiliense, 1985
TEIXEIRA, Rafael S. O mito da autoridade infalível. Espaço acadêmico, 2009
TRAGTENBERG, Maurício. Reflexões sobre o socialismo. São Paulo, Moderna, 1986

Documentários


JIMENEZ, Leal Orlando. La otra Cuba. Madrid, RAI, 1985. (Excelente)

LÓPEZ Y GUERRA, Humberto. Cuba del humanismo al Comunismo. USA, 1989.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Analfabeto marxista


Este poema é uma paródia do analfabeto político de Bretch. Aproveitei a ocasião para denunciar aqueles que fazem uma leitura superfial do grande filosofo alemão Karl Marx tão comentado e tão deturpado por aqueles que acreditam ser marxistas. Fiz a paródia por que não sou marxista porque o próprio Marx não era e ele afirmou isso diversas vezes.


A paródia não tem nenhuma intenção de fazer um discurso dogmático e apologético, é apenas uma crítica contra as organizações burocráticas que fazem do marxismo a sua ideologia, contrariando toda a autênticidade desta teoria.

Afinal vale lembrar a célebre frase do cientista político e sociólogo brasileiro Mauricio Tragtenberg:

É historicamente sabido que os opressores sempre se julgaram a vanguarda dos oprimidos. Os senhores feudais julgavam-se os paizinhos da sociedade, a burguesia aparecia como vanguarda do povo; por que a burocracia não pode aparecer como vanguarda do proletariado?



O analfabeto marxista

O mais convencido dos analfabetos
é o analfabeto marxista
ele pensa que é socialista
mas na pratica não é

Ele acha que por meio de organizações burocráticas
como o partido político e o sindicato
da luta no parlamento e pela conquista do poder estatal
chegará ao socialismo

O analfabeto marxista
é tão burro
e estufa o peito dizendo
que é a vanguarda do proletariado

Não sabe o imbecil que
da má leitura sobre Marx
nasceu a teoria da vanguarda
e o pior de todos, o falso socialista
que é o burocrata opressor
que luta para conquistar o poder
para implantar o capitalismo de estado.

Jayro de Sousa

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cesare Battisti: terrorista ou perseguido político?


Quem tem acompanhado o noticiário sobre a tentativa do governo italiano de extraditar do Brasil, o ex-integrante do grupo de extrema-esquerda PAC (Proletari armati per il comunismo) Cesare Battisti, acredita que se trata apenas de um simples terrorista e não um perseguido político pelo governo neofascista de Silvio Berlusconi.
Para inicio de conversa, o blogueiro não tem nenhuma estima por Battisti, mas antes de fazer um julgamento prévio, que é característico ao senso comum, é necessário fazer um retorno ao passado sobre a história italiana do fascismo ao pós-guerra.

O Fascimo e o pós-guerra

A Itália foi o segundo país europeu no século XX que implantou uma ditadura militar burguesa em 1921 para impedir o avanço das mobilizações populares, e Benito Mussolini foi o líder do movimento que ficou conhecido como fascismo. O fascismo mais tarde, serviu de exemplo para a introdução de novas ditaduras de extrema-direita, como foi o caso do nazismo na Alemanha em 1933, liderado por Adolf Hitler, o franquismo na Espanha, em 1939 e, o salazarismo em Portugal em 1934. Após a segunda guerra mundial, o nazi-fascismo foi derrotado e deu-se inicio a era da redemocratização, exceto Espanha e Portugal que continuaram governados por regimes ditatoriais até meados dos anos 70, em razão de não terem participado da guerra.
Durante o pós-guerra, os Estados Unidos ofereceram ajuda econômica aos países europeus destruídos pela guerra, através do Plano Marschall, que permitiu a recuperação das econômias européias em um período de apenas dez anos. A época ficou marcada pela expansão econômica e demográfica, a consolidação do Estado integracionista (Bem-estar social) e a democracia representativa.
A era pós-fascista na Itália foi considerada a era da esperança que ficou conhecida como "il miracolo italiano" durante os anos 50 até a metade dos anos 60. O país abandonou a monarquia em 1948, e se tornou uma república parlamentarista, construindo uma das melhores Constituições do mundo. A urbanização, o crescimento industrial e de serviço deu origem a expansão da sociedade de consumo. A televisão e o automóvel foram os carros-chefes dessa nova sociedade italiana em uma época que ficou caracterizada por escassos conflitos sociais.

Automóveis o simbolo da modernidade italiana

A partir da metade dos anos 60, o Estado integracionista começou a entrar em crise por três motivos: 1) o crescimento econômico diminuiu; 2) os trabalhadores, em especial os operários da indústria, exigiam uma maior participação nas atividades econômicas em razão da boa qualificação que tornou mais cara a mão-de-obra; 3) os capitalistas aumentaram a transferência de capitais para os países menos desenvolvidos para obter mão-de-obra mais barata. Esse cenário permitiu o arrefecimento das lutas de classes, a partir de 1968 e, que desde o biênio vermelho 1919-1920 não aconteciam.

Das revoltas estudantis e operárias de 1968-1969


1968 foi o ano das revoltas estudantis que sinalizou as crises políticas, sociais, econômicas e culturais que contribuiu para a formação de uma nova mentalidade. O capitalismo, a burocracia, a sociedade de consumo, os meios de comunicação, os partidos políticos, os sindicatos, o sexismo, o racismo, os valores tradicionais tudo era motivo para a contestação.
Se nos Estados Unidos, os estudantes protestavam contra a guerra do vietnã, os negros contra o racismo e os operários contra a exploração que eram submetidos; na França, os estudantes iniciaram um protesto pelo direito de fazer sexo em um ambiente universitário que reproduziam os mesmos valores tradicionais da sociedade, o estopim deu origem ao maio francês. A novidade de 1968 foi por em xeque os valores tradicionais que serviam apenas para reproduzir a repressão seja política, econômica, social, cultural e sexual.
Apesar da agitação estudantil tivesse menor intensidade na Itália em 1968, curiosamente nos anos seguintes, os protestos estudantis que reinvidicavam uma maior participação de gerir o processo de organização dos cursos e desenvolver assembléias para permitir o direito de estudo para todos em igualdade, ganharam impulso a partir da agitação do movimento feminista e principalmente da classe operária.
As mulheres através de lemas como "tremate, tremate le streghe son tornate" (tremam, tremam as bruxas voltaram) exigiam direitos iguais em todos aspectos cotidianos, em especial na família e no ambiente de trabalho colocando em discussão os valores tradicionais sobre o papel feminino.

As mulheres entram na cena política

As agitações operárias que iniciaram em 1969, colocaram em risco o poder dos partidos de esquerda e dos sindicatos, pois neles os trabalhadores por meios de suas lutas, denunciavam o caráter burocrático dessas organizações e não as reconheciam como seus representantes. O velho lema de Marx " A emancipação da classe trabalhadora é obra deles mesmos" permitiu o desenvolvimento da autonomia operária, ou seja, os próprios trabalhadores através das comissões de fábricas, comitês de luta, conselhos operários e entre orgãos horizontais geriam e desenvolviam por si mesmos as próprias lutas. Esse fenômeno foi denominado autonomismo que assustou profundamente não apenas a burguesia, mas também as burocracias partidárias e sindicais. As lutas autônomas desenvolveram em muitos países europeus, especialmente em Portugal, o que permitiu a derrocada da ditadura fascista portuguesa em 1974.

O autonomismo e a reação do terrorismo da direita fascista


O poder operário lema dos autonomistas

As lutas autonômas na Itália, iniciadas em 1969, foi uma resposta a situação sócio-econômica que vivia o país. As dificuldades de manter o alto custo do estado de bem-estar social, a crise na agricultura, o rápido desenvolvimento das cidades, o aumento de salários durante o boom econômico e a transferência de capitais aos países subdesenvolvidos foram razões suficientes para o Estado italiano de aumentar as taxas, cortar gastos e os bancos de restringir o crédito incrementando dessa forma o desemprego e a inflação.
Nesse contexto, os protesto dos trabalhadores ficaram mais acessos dando inicio ao autunno caldo (outono quente). Durante os meses de setembro, outubro, novembro, as greves tornaram-se bastante radicais, atigindo o seu apogeu e os trabalhadores obteram uma grande vitória: redução de horário e melhores condições de trabalho até conquistar o estatuto dos trabalhadores que regulamentava os poderes patronais, aumentando a liberdade, a segurança, os direitos políticos e sindicais dos trabalhadores.

Greve dos trabalhadadores no outono quente em 1969

Em resposta ao avanço da classe trabalhadora, grupos terroristas de extrema-direita, financiados por setores dos serviços segretos, muito deles ocuparam cargos importantes durante o fascismo e, também de seitas maçonicas, máfia, e entre outros deram inicio a estratégia de criar tensão social para colocar as bases de aplicar um golpe de estado que foi tentado em 1970, através de Junio Valério Borghese, militar fascista que ocupou cargos importantes durante o fascismo e que construia grupos armados clandestinos de direita.
A onda terrorista de direita iniciou antes mesmo da explosão do autunno caldo. No dia 25 de abril de 1969, data que comemorava a libertação do fascismo, houve uma explosão de uma bomba na feira Campionaria de Milão. Meses depois, em dezembro do mesmo ano, uma bomba matou 16 pessoas e feriu uma centena na Piazza Fontana, em Milão. Da mesma forma, outros sangrentos episódios, como dois atentados em 1974, na Praça della Loggia em Brescia e no trem italicus ou no massacre na estação de Bolonha em 1980, em que mais de 80 pessoas morreram. Em todos eles, os fascistas não reivindicaram os atentados.

Capa do jornal corriere della Sera sobre o terrorismo fascista

Todos esses atentados tiveram origem das mesma matriz, foram idealizados e praticados por grupos de extrema-direita. Mas curiosamente nenhum deles foram punidos. Apesar disso, fica evidente que os fascistas gozavam de absoluta impunidade e tiveram apoio e proteção de certos setores do estado. Os serviços secretos italianos e até mesmo extrangeiros como a CIA são suspeitos e, muito provavelmente a famigerada Loggia maçônica P2 de Licio Gelli, dissolvida em 1982, tinha como um dos maiores financiadores, o atual primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, todos os esses grupos deram sustentação aos atos terroristas. A Loggia P2 financiou o regime militar argentino (1976-1983) e tinha como cliente o almirante Emilio Massera, que fazia parte da tríade dos ditadores junto com Jorge Rafael Videla e Orlando Agosti.
O terrorismo de direita deu origem ao terrorismo de esquerda que surgiu por esses motivos; 1) a luta constante dos grupos autonomistas contra os sindicatos, 2) a falência dos partidos de esquerda como foi o caso da conciliação do PCI (Partido Comunista Italiano) junto a DC (Democracia Cristã); 3) A reação contra o terrorismo de direita e ao estado que dava-lhe suporte e 4) A prática da violência gratuída como forma de expressão.

As Brigadas vermelhas e il terrorismo rosso

Nos anos 70, os partidos comunistas na Europa Ocidental passaram por uma reformulação, em decorrência da evasão de militantes ocorrida pelas sucessivas intervenções militares soviéticos nos países que estavam sobre o satélite.
O modelo de partido único é contestado e os aparelhos burocráticos dos partidos comunistas ocidentais progressivamente tornaram-se autônomos ao modelo russo, dessa forma surgiu o eurocomunismo. A novidade estava no fato de o eurocomunismo seguir a mesma tendência gradualista que caracteriza a social-democracia. A defesa do parlamentarismo, do estado burguês (neutro), a defesa dos interesses nacionais (leia-se burguesia nacional) e das "frentes populares" contra o fascismo.
Tal novidade não foi digerida por muitos militantes leninistas que ficaram desapontados com o PCI, somada ao burocratismo e imobilismo das centrais sindicais, a recusa dos autonomistas de seguirem aos ordens de grupos vanguardistas o divisionismo do movimento operário, isso sem falar no terrorismo fascista, abriram caminho para estudantes e intelectuais de criar organizações armadas terroristas com a suposta missão de "libertar o povo".
A mais importante organização terrorista foi as Brigate Rosse (Brigadas Vermelhas) que cometeu diversos atos terroristas contra autoridades políticas, policiais, empresariais com a missão de arrecadar fundos para libertação de presos. O ato mais emblemático do movimento foi o sequestro e o assassinato do líder da democracia cristã, o primeiro ministro italiano Aldo Moro, em 1978 , cujo partido era aliado ao partido comunista no governo.

A bandeira das Brigadas Vermelhas

O terrorismo vermelho se diferenciava do terrorismo negro (fascista) por ter como alvo não atacar as pessoas no espaço público, e sim as autoridades e/ ou grupos que supostamente estariam envolvidas com grupos fascistas. Todavia, os grupos terroristas não se restingiam apenas isso; o PAC (Proletariado Armati per il Comunismo) de Cesare Battisti lutaram contra a estrutura carcerária e todos aqueles que eram considerados membro das forças de ordem.
O assassinato de Aldo Moro deu inicio ao fim do terrorismo vermelho, em razão do repúdio da sociedade italiana contra o terrorismo, seja ele de direita ou de esquerda. No entanto, apenas os esquerdistas foram condenados e muitos dos seus integrantes foram condenadas a prisão pérpetua e inclusive foram torturados, já a direita fascista praticamente permaneceu impune. Deve ser levado em consideração, que 70% dos atos terroristas nos anos 70, foram praticados por grupos de direita, enquanto a esquerda realizou o restante. Os anos setenta ficaram conhecidos na Itália como gli anni del piombo (os anos de chumbo).

E Battisti?

Battisti sob o foco

Cesare Battisti foi preso pela primeira vez em 1972 por assalto em Frascati, uma cidade na província romana. A sua adolescência foi marcada por atos gangsters e , após ter realizado mais dois assaltos, foi preso em Udine em 1977, onde encontrou o ideologo do PAC, Arrigo Cavallina que o integrou na organização.
Após a transferência a Milão, Battisti integrou aos grupos que assaltavam bancos e supermercados e consequentemente homícidios de comerciantes pertencentes as forças de ordem. A acusação contra Battisti é que ele cometeu 4 assassinatos:
Antonio Santoro, agente penintenciário; Pierluigi Torregiani, joalheiro;
Lino Sabbadin, açogueiro; Andrea Campagna, agente do Digos, polícia de estado.
Todavia, deve ser destacado que as acusações contra Battisti estão baseadas apenas a um integrante do PAC Pietro Mutti, um dos tantos pentiti (arrependidos) que a defesa acusa de ter entegrado o companheiro para descontar a sua pena concedida a lei antiterrorista italiana. Battisti nega os assassinatos, afirmando que havia saído do PAC, após a morte do primeiro ministro Aldo Moro. Segundo ele, Mutti foi coagido por meio de torturas a confessar os assasssinatos que são atribuídos.

Os anos de chumbo na Itália dos anos 70

A diferença das brigadas vermelhas e o PAC era que o primeiro era uma organização de estilo militar centralizado com caráter leninista o segundo era descentralizado, flexível característico ao autonomismo.
Em 1979, Cesare Battisti foi preso e sentenciado a doze de prisão, sem ter qualquer relação com os assassinatos que atualmente é acusado. Fugiu em 1981, para a França com a ajuda de Pietro Mutti, o futuro pentito que atribuiu a ele essas acusações. Em seguida, foi para o México e retornou a França, por meio da Doutrina Mitterrand, onde começou a carreira de escritor, mas em 1991, o governo italiano pediu a sua extradição e ficou preso durante 4 meses na prisão de Fresnes até que a sua extradição foi negada.
A partir do governo Jacques Chirac em 2004, a justiça francesa mudou a orientação e liberou a extradição. Desde então, Battisti é considerado terrorista e perseguido pelo governo italiano.
Os atos praticados pelo terrorismo de esquerda italiana, especialmente das Brigadas Vermelhas, devem ser condenados, no entanto, é necessário levar em consideração 3 coisas:
1) O terrorismo de direita na Itália, salvo raras exceções, jamais foi punido e certos integrantes do governo Berlusconi estiveram envolvidos nos atos terroristas. Vale lembrar que os meios de comunicação na Itália estão nas mãos de Berlusconi.
2) Embora, a Itália estivesse teoricamente sob "Estado de direito", na prática vivia no submundo político do terrorismo, das máfias, das seitas maçônicas, dos serviços secretos, muito semelhantes aos estados de sítios característicos das ditaduras militares.
3) Boa parte dos integrantes do terrorismo vermelho foram condenados a prisão pérpetua e inclusive foram torturados. Alguns foram beneficiados com a lei de delação.
Resumindo o caso Battisti tem dois pesos e duas medidas. Cesare Battisti pode até ser culpado das acusações que lhe atribuem, mas muitos integrantes do terrorismo vermelho, em especial das brigadas vermelhas, fizeram coisas muito piores e nem por isso tem todo esse fuzuê. Isso sem falar na extrema-direita que ocupa cargos importantes no governo Berlusconi e está livre leve e solta. Se trata mais de caso político do que propriamente judicial.
O caso Battisti serve de reflexão para não cair na velha tática do denuncismo que caracteriza o jornalismo atualmente.